segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Diz que 'tá dura

A música "Feijoada Completa" é um samba/choro bem legal. Chico Buarque e Francis Hime sempre compuseram coisas boas. É uma música bonitinha, interessante, a priori, dá a receita de uma feijoada, falando seus ingredientes e tudo mais. Só que notei uma coisa genial na letra. A música fora lançada em 1978, no álbum com o título "Samambaia". Era época do regime militar, e Chico - como sempre - parafuseava a Ditadura pela lateral...

Eis uma das estrofes da música: Mulher/ Depois de salgar/ Faça um bom refogado que é pra engrossar/ Aproveite a gordura da frigideira/ Pra melhor temperar a couve mineira/ Diz que tá dura/ Pendura a fatura no nosso irmão/ E vamos botar água no feijão.

Pois é, Diz que tá dura, pendura a fatura no nosso irmão. Fatura é uma espécie de rede de pesca. Estranho, não... Pendurar rede de pesca no 'nosso irmão' dá azo à nossa imaginação... Pensar na Ditadura, nas torturas, sei lá. É interessante, só isso. Chico é genial e ponto.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Lua vadia

Certa época do ano, os dias são mais demorados que o normal. Ouvi dizer que, em Salinas, por esse fato incomum, a lua nasce antes do sol se pôr e ambos ficam, de certa forma, alinhados. Engraçado. A lua é vadia, se aproveitando da hora tardia. A lua usurpa o espaço do sol, dividindo com o astro sua beleza. Contempla a todos com um espetáculo ímpar.

A lua se entromete na vida do sol, e este por sua vez fica lá, padecendo segundo por segundo, até tocar na água, até sucumbir, ainda que seja por uma noite. Ele não se preocupa. O sol vai renascer, do outro lado, dando a volta na lua, enganando a sabichona. O céu não consegue esconder a lua; ela vai, passa e se instala, como o posseiro de Teresinha, como abelha rainha. Ninguém esconde a lua, ainda que pequena, pois a noite é dela; seu teatro é na escuridão.

Rir é risível

Quando alguém ri, não ri à toa. Pode ser da tragédia, do cômico, do amor. Um simples riso não diz nada, mas tampouco omite sentimento algum. É o retrato daquilo que existe, sem mais ne por quê. Quando ris, não o faz apenas com a boca, com os lábios. Todos os músculos estremecem, toda lembrança é - indevidamente - rememorada. O riso se faz assim, vadio e dissimulado.

A boca não ri sozinha; seria um insulto deixá-la contrair solitária, sem companheiro, sem afago. Os olhos riem, a alma ri, o corpo gargalha. Todo um espectro é criado no momento exato do riso, da fala, do som. E quem não sabe ri, ri do avesso; ri pro nada, rouba risos. A vida se faz de risos, mas estes não se fazem por ela; fazem-se por si próprios. Existem pelo puro prazer lascivo.

O sorriso é o riso indecente. É o riso sem pudor, sem caráter. É o avesso do avesso.
É, mas também não é. É risível.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Tentando voltar, de novo

Credo, isto 'tá largado às baratas, às traças. Como ninguém lê isso aqui, me sinto à vontade pra falar o que quiser, dizer o que der na telha. É bom ter um amigo imaginário: eu mesmo. Fico pensando - às vezes - que sou tão egoísta que meu alter ego sou eu mesmo, um pouquinho mais insano. Bom, então a reestreia do post vai ser em homenagem ao meu alter ego. Ele quer sair um pouco, quer rir, quer amar... Pena ninguém levá-lo a sério. Ele é uma boa pessoa, mas é incompreendido. Pensam ser maluco, talvez psicopata. É meio. Se fosse completo, eu adoraria que fosse um serial killer.

O alter ego também sofre, também tem emoções. O problema é que ele não pode compartilhar nada com ninguém senão com seu domador, que é quem sofre por ele. Alter ego não tem alma; tem um pouco de respeito pela sua. Ele sente saudade do que nunca existiu, amou quem não mereceu... Vida de alter ego é cruel, meu caro. Sabe qual é a diferença entre ele e o Twitter? Nesse último, pelo menos, tu pensas ter alguém contigo; mas é sozinho, é tudo mentira.

Namore, case, tenha filhos com seu alter ego; ele nunca vai te decepcionar. Acredita nisso, nunca. É seu confidente mais belo.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A maravilha do crime no cinema

Meu juízo me presenteou com dois filmes esses dias. Não assistia a um filme tão instigante e com reviravoltas tão esplendorosas desde Rebecca – A Mulher Inesquecível, de Alfred Hitchcock. Falo de obras maravilhosas com nomes sugestivos: Anatomia De Um Crime (Anatomy of a Murder) e Testemunha de Acusação (Witness for the Prosecution). Não sei qual dos dois merece maior destaque (talvez ambos). Esse infra-gênero de filmes (por assim dizer, filmes de tribunal) já rendeu bons e péssimos filmes. Contudo, aqueles mais antigos merecem maior destaque, a começar pelo segundo citado, da obra de Billy Wilder (Crepúsculo dos Deuses e Quanto Mais Quente Melhor).

Testemunha de Acusação foi baseado em um pequeno conto de Agatha Christie. É primoroso, a começar pelas atuações impecáveis. Charles Laughton nos deixa um personagem marcado na memória ao interpretar o Sr. Wilfrid, advogado recém-saído de um duradouro coma, após um infarto. Este personagem ao mesmo tempo em que domina um sarcasmo inigualável, possui ainda um humor brincalhão. É acompanhado de uma enfermeira linha dura que fará de tudo para que ele não faça o menor esforço. A trama se inicia quando um senhor chamado Leonard Vole é acusado de matar sua amante, uma viúva de certa idade. O Sr. Vole é levado ao escritório desse notório advogado – o qual jurou, por motivos médicos, nunca mais aceitar casos da área criminal, mas tão-somente divórcios ou ações do gênero – a fim de tentar convencê-lo a levar seu caso adiante. Como o Sr. Wilfrid não conseguiu largar os charutos e nem o conhaque, aceitou-o. No meio da trama, aparece uma figura importantíssima, a frígida mulher desse Leonard Vole, com uma interpretação belíssima de Marlene Dietrich. O caso vai à julgamento, e é dentro do tribunal que acontecem as sucessivas reviravoltas. Elas, com certeza, deixam toda e qualquer pessoa boquiaberta. Os argumentos são pouca coisa inferior aos do segundo filme, porém as atuações, combinados com um final histórico, fazem dessa obra de Billy Wilder um filme marcante.

Otto Preminger (Bunny Lake Desapareceu e Exodus) deixou ao mundo do cinema um presente para quem gosta de um thriller dos tribunais. James Stewart (Janela Indiscreta e A Felicidade Não Se Compra) se apresenta ótimo como sempre, no papel de um singelo advogado que decide levar adiante um caso praticamente perdido: um marido matou o estuprador da sua mulher, e todos sabem, pois ele confessou. Parece uma linha simples de raciocínio, até que surge a figura dessa mulher; quase que promíscua e extrovertida, essa loura sensual coloca uma dúvida na cabeça do espectador: houve mesmo estupro? As coisas, que no começam pareciam claras, vão se turvando de forma gradativa no filme, ao passo que, do seu meio até o final, nada mais está claro. Com argumentos de uma criatividade ímpar, o filme se desenrola de forma majestosa perdendo apenas no seu final (ou talvez não).

Eis a diferença entre os dois filmes. No clássico de Billy Wilder, o filme todo é muito bom, e nas suas cenas derradeiras, transforma-se em uma obra-prima. Já na obra de Otto Preminger, o filme inteiro é uma obra sensacional, deixando um final aparentemente estranho e parecendo voltar à estaca zero. Entretanto, ele pode – dependendo da interpretação – esclarecer aquela dúvida inicial. Não se embrulhem na mortalha antes de assisti-los.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Que maravilha!

A estréia nacional do filme, adaptado da obra literária de Chico Buarque, Budapeste, acontece hoje. Bom, "estréia nacional" é muito amplo, visto que, obviamente, não estreou aqui no fim do mundo, onde nem a gripe suína se arrisca em passar uma temporada. Já era de se esperar, mas a minha expectativa era enorme para o dia de hoje. Infelizmente vou ter de aguardar a boa vontade do Moviecom em rodar o filme nas suas putrefatas salas de exibição. Aquele cinema do novíssimo Shopping Pátio Belém é o 'pão e circo' do Pará. A única diferença é que quem deseja assistir a algum filme, deve desembolsar um preço relativamente caro. C'est la vie.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O Ministro e a maconha

O polêmico Carlos Minc aprontou mais uma: participou da marcha da maconha. Só não entendo por que alguns parlamentares ficaram tão irritados com a simples ida do ministro à pacata marcha. Ele foi, inclusive, chamado para se explicar diante dos excelentíssimos do porquê participou dessa manifestação. Um parlamentar cujo o qual o nome não infectou minha memória, chegou a dizer que que o ministro fez apologia à maconha. É risível uma declaração desse porte. Ora, meu senhor, vá estudar (ou melhor, volte a estudar um pouco). Fazer apologia não é participar simplesmente da caminhada pela legalização da maconha. Pra fazer apologia, tem que incitar o uso, instigar, provocar, usar de meios que facilitem a chegada do entorpecente a qualquer pessoa. Participar de uma caminhada (ou marcha) que vise a legalização do que quer que seja, é uma tentativa inocente de almejar tal objetivo.

Os parlamentares deveriam se olhar no espelho, deveriam olhar para dentro do Congresso e ver que há problemas muito maiores do que um Ministro tomando partido pela predileção de (uma pequena) parte do seu povo. Pelo menos são poucos os que não se acanham em entrar nessa luta.
Mas reduzir o tráfico e o crime organizado não é bom negócio. Reduzir a violência e desarmar bandido não é bom negócio. Enquanto isso, fumar maconha é crime e quem compra arma bandido e faz aumentar a violência. Se quiser, lute para tentar, pelo menos, reduzir o financiamento do tráfico. Se bem que, se legalizassem a cannabis, alguma outra coisa seria inventada pelo tráfio. Tem muita gente por trás dele que a gente nem imagina...

Sonegar é crime? Ninguém me avisou

Sonegar é crime? Parece que a modelo Isabeli Fontana não se preocupou em sonegar R$ 6,5 milhões de Imposto de Renda. É o Brasil. Muito bem, dona modelo (sem ironia). Afinal, se eu ganhasse uma dinheirama dessas, não iria querer dividir com ninguém, assim de mão beijada. Hoje ainda não pago imposto de renda; mas vejo milhões de brasileiros fazendo suas contas todo ano a fim de contribuir com a União. Isso que é cidadania. Alguns, dependendo da renda, têm que doar vinte e sete e meio por cento dos seus ganhos à União. É quase um terço do ganho. É quase um roubo.

Muito bem, dona modelo. Você não quis contribuir com a construções de castelos, com viagens parlamentares, não quis sustentar a vida de um bando de malandros que se apóiam no dinheiro do brasileiro. A dona da Daslu foi outra que entrou pelo cano ao sonegar milhões em impostos. O governo fica com raiva ao ver que esse dinheiro todo escapa Brasil afora. A cólera sobe à cabeça por ter menos dinheiro para viajar com toda a família, seu deputado? Desse modo, me pergunto todo dia ao acordar: sonegar é, de fato, crime? Claro. Tudo que vai contra os interesses da União é crime. Tem gente que sustenta o tráfico, comprando Dvd's piratas e entorpecentes ilícitos; tem gente que é obrigada a contribuir com outro tráfico. Afinal, qual é o tráfico e qual é o crime organizado? Eu já nem sei. Quem é bandido e quem é moçinho? É o do castelo ou o da favela? E a favela, não é o Congresso? No Congresso tem dinheiro, na favela tem droga. Mas onde tem dinheiro, tem droga. Que droga de Congresso nós temos.

Usar dinheiro público indevidamente é o quê? Se todos tivessem a audácia dessas pessoas que sonegam milhões, seria uma pândega só. Afinal, elas estão apenas defendendo seu patrimônio de um eventual roubo. O coitado paga impostos para acesso à saúde, educação e afins, mas tem de pagar plano de saúde e colégio ou faculdade particulares para não definhar em uma fila quando mais precisar ou ter uma instrução que preste. E a segurança pública? Essa sim é maravilhosa. No final das contas, o trabalhador doa ingenuamente impostos ao governo. Porque pagar à União para ter acesso à direitos e garantias individuais e, posteriormente, ter de pagar novamente a um terceiro particular para ter um real acesso aos mesmo, é sacanagem, seu Presidente.

Então a pergunta paira sobre o céu cinzento: sonegar impostos, nesse país deprimente, é mesmo crime?

terça-feira, 19 de maio de 2009

Eles voltaram

Para quem ainda não acreditava, eis a prova.

http://www.youtube.com/watch?v=VIGyAgn3zK0&feature=related

sexta-feira, 15 de maio de 2009

JFK

JohnFitzgerald Kennedy. Este nome seria uma promessa de um Estados Unidos melhor, caso não o matassem. Depois de assistir ao filme JFK (1991) de Oliver Stone, pude, talvez, notar no que consiste os Estados Unidos da América. Assassinato propriamente dito? Conspiração? Por que uma pessoa sozinha mataria um presidente? Existe uma palavra-chave para toda a questão: guerra. A guerra move os Estados Unidos, gera bilhões de dolares por ano ao país. Então, se um presidente chega com o discurso de acabar com a guerra, o que aconteceria com ele?

Dizem que a conspiração envolve o próprio governo, membros do exército, o FBI e muitas outras pessoas do mais alto escalão do Tio Sam. Segundo as autoridades, o real assassino foi Lee Haravey Oswald, um assassino solitário - brilhantemente interpretado por Gary Oldman no filme. Kennedy Morreu 12:30 (horário de Dallas). Entretanto, segundo um ex-membro do exército, quando este estava na Austrália, o jornal indicando que o suspeito Lee Harvey Oswald havia sido detido já circulara no país, apenas 10 minutos depois do assassínio. Engraçado, não? Esses e outros fatos controversos indicam uma possível conspiração, como por exemplo, o fato do cérebro do Presidente ter sumido durante a autópsia. Um dos tiros atingiu em cheio a cabeça do Kennedy, dilacerando-a - e disso se fez uma das cenas mais chocantes de se ver: a primeira-dama, em desespero, pula para parte de trás do carro a fim de catar os pedaços do cérebro do marido; o cérebro seria de suma importância na autópsia para saber a origem da bala, em que ângulo ela entrara em Kennedy.


Essa tragédia tem como contexto a Guerra do Vietnã, acredito que uma das piores da história. Muitos dos filmes de Oliver Stone têm como contexto - direto ou indireto - a tal guerra, já que ele servira nela (o próprio JFK, Platoon e Nascido em 4 de Julho). Para quem não assistiu, é um filme surpreendente, talvez um dos melhores dos anos 90, de um cunho político exorbitante e de tirar o fôlego, com uma cena de julgamento quase que interminável, parecendo que vai prender a atenção do espectador para sempre. Conta ainda com nomes como Kevin Costner, Tommy Lee Jones, Joe Pesci, Gary Oldman, Kevin Bacon, Donald Sutherland e outros. É um filme com mais de 3 horas, mas essas horas serão leves; será como ouvir uma bela canção.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Zii e zie

Para surpresa geral, Caetano Veloso virá de novo fazer show em Belém, show este referente ao seu novo CD Zii e Zie. Ele vem antes mesmo de se apresentar em São Paulo. Que prestígio, hein. O show de Maio de 2007 foi muito bom, apesar dos habituais pitis do astro. Outro probleminha foi a Assembléia Paraense ter reservado o fundo do salão às pessoas que pagaram 50 ou 100 reais no ingresso. Esse show foi marcado pelas músicas do então CD novo e de muitos clássicos, inclusive London, London. Espero que dessa vez, possamos ser contemplados com O quereres ou Alegria, Alegria, e não com aquelas coisas de 'às vezes no silêncio da noite...'

Caetano poderia contemplar o público de Belém rememorando a tropicália, suas parcerias imortais e, quem sabe, um pouco de samba. Mas, pelo que vi dois anos atrás, Caetano deixou os arranjos memoráveis de lado e partiu para o lado da guitarra, do contrabaixo e da bateria, com um eventual violãozinho em uma música ou outra. Não sou fã de Caetano, mas provavelmente estarei lá, contemplando a boa música que ainda sobrevive emergindo de quando em quando na nossa atmosfera. Dia 23, Caetano Veloso com seu novo show Zii e zie.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Welles e a Mídia

Muitas são as críticas contra a mídia - não só a brasileira como do mundo todo. Essa 'mídia de massa', como chamam por aí. O fato é que ninguém conseguiu criticá-la tão bem como Orson Welles. Seu filme imortal Cidadão Kane é a prova disto. Precocemente, ele cria um roteiro baseado - segundo a boca miúda - na vida de um magnata americano do jornal, mesclado com a sua própria história. É a ascensão de alguém que não tinha lá muitos recursos através da mídia. E, ainda, é uma ascensão pelos jornais que publicam manchete às vezes inúteis e sensacionalistas.

(Toda semelhança com o Brasil é mera coincidência)


No último filme dirigido por Orson Welles - Verdades e Mentiras (F for Fake) - Welles cria um falso documentário, onde diz, até exata 1 hora de filme, verdades, e tudo dito posteriormente, é mentira. O problema é que, durante o filme, não se sabe o que é verdade ou mentira. Welles sempre teve dom para isso. Ele demonstra claramente ao falar, no filme, que quando conseguiu um emprego na rádio, anunciou que extraterrestres teriam invadido a Terra; que a Casa Branca já havia começado certas negociações com os visitantes, e por aí vai. O engraçado é que milhares de pessoas que ouviram tal notícia no rádio deveras acreditaram em tal. Ao invés de ir para a cadeia, foi para Hollywood.
Orson Welles conseguiu nos demonstar, de forma majestosa, o quanto a mídia nos influencia, seja no jornal impresso, seja na rádio, seja na televisão. Mostra-nos como a sociedade acredita em qualquer absurdo que saia nesses veículos. A vulnerabilidade do homem se dá pelos poucos que detém o poder de manipulação.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O 'outrora belo rosto'

Terminei ontem a leitura de Leite Derramado, livro lançado em Março, da autoria de Chico Buarque. Livro com uma narrativa interessante, em primeira pessoa. O livro é a narrativa de um velho moribundo contando suas desventuras de mais de cem anos. Fala de sua mulher, da sua família - os Assumpção - numa leitura genealógica desta, que vem desde a Corte Portuguesa até os dias atuais. A narrativa é bam parecida com dos outros trêrs romances, se aproximando um mais de uma mistura de Estorvo e Budapeste. Continua com a separação de falas dos personagens apenas por vírgulas, acho que a única coisa irritante dos seus livros.

Pegando o enredo, nota-se uma inspiração no 'épico contemporâneo' Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez; visto que há um desenrolar de uma estirpe séculos a fio. A Diferença é que aqui o narrador já ultrapassou a história dos antepassados e este reconta a mesma. No livro do colombiano, a história vai acompanhando os descendentes. Outro aspecto interessante é uma leve correlação entre Matilde - a mulher do narrador que, apesar de ser citada várias vezes no livro, é como se não aparecesse - e Rebecca, livro de título homônimo de Daphne Du Maurier, posteriormente adaptado ao cinema por Alfred Hitchcock. A correlação se dá mais com o filme, visto que, apesar do mesmo ser entitulado Rebecca, a mesma não aparece em momento algum do filme; mas o seu nome é de uma força que a figura se torna desnecessária. O mesmo acontece com Matilde. Caso o livro venha a se tornar filme, o mesmo poderia acontecer: Matilde seria onisciente, ao ponto de ganhar seu espaço no roteiro apenas com seu nome e sua memória.

O modo como Chico explora o sexo se assemelha um pouco à Budapeste, só que um pouco mais... forte. É a literatura buarqueana tomando cada vez mais força. A cada livro, o malandro se aperferiçoa mais. Espero que um dia a perfeição o acolha na forma de prosa.

Grilagem Divina

Vendo um pedaço no céu. Na minha mão é mais barato. Aqui você paga dez por cento do seu salário até o resto da sua vida. É uma bagatela. Seu pedaço no céu estará garantido com o Pastor Adeílson.
Se deus realmente existir, primeiramente ele deve estar muito zangado comigo por não acreditar tanto assim nele (o mundo não me deixa fazê-lo), e deve ficar muito triste por venderem suas terras dessa maneira, assim tão imprudentemente. Já pensou, deus chega em casa após um dia duro de trabalho nos Estados Unidos e de repente vê integrantes do MSC (Movimento dos Sem-Céu) invadindo seus pastos, só porque um grileiro divino lhes vendera o terreno ainda em vida? Deve ser triste. Tomo dores por deus ao fazerem tamanha sacanagem com ele. Se eu fosse o próprio, entraria com uma ação de evicção, alegaria grilagem e o escambau; sairia distribuindo raios em todos os invasores, para que eles nunca mais voltassem.

Pois bem, falando dessas pessoas que compram um lugar no céu, devo demonstrar toda uma repúdia. Claro. Tudo bem que muitas pessoas não têm instrução suficiente e se deixam dominar pela religião. Mas comprar pedaço do céu não é falta de instrução, é burrice nata; e essas mesmas pessoas ridicularizam e maldizem os coitados dos mulçumanos que se matam por um bando de virgens no paraíso. Agora, diz-me, qual a diferença? Nenhuma. As crenças devem ser respeitadas, mas nunca sobrepostas. Então nunca diga que o mulçumano suicida sofreu lavagem cerebral para se matar. Não. Ele realmente acredita que haverá dezenas de virgens esperando por ele no paraíso. O coitado do trabalhador aqui no Brasil também acredita que terá adquirido seu pedacinho de terra em vida. Se ele reencarnar, coitado, terá desperdiçado uma dinheirama.

Na verdade, não seria bem desperdiçado, mas dado com muito suor a um pastor qualquer, que se aproveita dessa situação e engana o assalariado. Pior é que, misteriosamente, o pastor sempre ganha um dinheirinho com essa empresa chamada Igreja Universal & Associadas S/A. Mas afinal, esse dinheiro não era pra comprar o tal do latifúndio divino. Parem de enganar os crentes, seus irresponsáveis. Se eles chegarem no céu e derem de cara com o terreno cercado e habitado por um velho barbudo criando ovelhas, vocês terão de vender seus carros e sua mansão para pagar um advogado (do diabo).

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Muito Além da Gripe

Que maravilha saber o poder da mídia. Nesse mês que passou pudemos experimentar ainda mais sua força; tirar vantagem até na doença... assim não dá. Desde que casos e mais casos foram confirmados no México e, posteriormente, em uma série de outros países, não se fala mais em outra coisa. É somente a gripe suína - ou H1N1. Claro que a mídia - especialmente a brasileira - não deixaria de se aproveitar da situação. É isso que estamos vendo: um bombardeio de headlines, notícias e mais notícias nos telejornais, chegando até a ser chato. O coitado do Obama foi deixado de lado; ninguém sabe que Hugh Jackman está no Brasil divulgando o filme do Wolverine. E a crise? Foi-se.

A doença nova contagiou a todos (belo trocadilho, hein?). E parece que a mídia consegue dissipá-la mais rápido que o ar; a Rede Globo em especial. Noutros canais até se pode ter um noticiário com manchetes mais interessantes. Outro aspecto interessante: as outras doenças sumiram do mundo! Pouco mais de mil desafortunados foram levados à óbito pelo novo vírus. Excelente. Pelo menos foram somente eles, porque o mundo todo esqueceu dos milhões de africanos contaminados com um vírus um pouquinho mais nocivo. Os milhares de tuberculosos espalhados por leitos abandonados Brasil afora também foram deixados de lado da mesma forma que um jornalista de merda deixa uma matéria desinteressante de lado.

A Rede Globo poderia se preocupar com coisas de importância bem mais acentuado. Mas está interessada na manchete, no dinheiro. O poder de influência é tanto que, segundo informações, as máscaras cirúrgicas das farmácias de Belém acabaram. A mídia colocou tanto medo na população que até nós, isolados do mundo, fomos contagiados (opa, de novo!) por essa nova febre (perdão). Não há como negar que o nosso Cidadão Kane*nos domina mais e mais a cada dia, chegando ao ponto de sermos influenciados na alegria e na tristeza, na saúde e na doença...


*Veja Beyond Citizen Kane, documentário britânico sobre a Rede Globo.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Razoável

A revista Veja, como de costume, não ousa publicar nada de construtivo ou interativo; possui o colunista mais idiota do mundo e reportagens completamentes desnecessárias. Logo, o que esperar de uma das suas promoções, a Cinemateca Veja? Para surpresa geral, até que é razoável. Não é boa nem ótima. É razoável. É evidente que, se for fazer alguma coisa sobre algum tema, deve-se expor fatos que afirmem tal. Sendo assim, se é feita uma promoção e publicação de cinema, que seja feita de uma forma correta. A intenção era mostrar os maiores 'sucessos'; numa outra leitura, deveria haver filmes que mostrassem toda a evolução cinematográfica - não necessariamente de uma forma cronológica.

Não estou tentando dissimular essa divulgação com gostos pessoais, mas sejamos sensatos: isso é pura balela. Claro que a publicação possui excelentes filmes como Apocalypse Now, 2001: uma odisséia no espaço, O Iluminado, A Malvada, Amadeus, Intriga Internacional, Pulp Fitcion, Fale com Ela, Disque M Para Matar, Um Dia de Cão, Um Sonho de Liberdade, etc. , mas essa lista deixa muito a desejar. Se é para publicar títulos de peso, por que motivos - até agora me pergunto - não há sequer um filme do Orson Welles? Cadê Cidadão Kane, considerados pelos críticos mais chatos como o melhor filme da história do cinema? É algo incompreensível.

E, se alguma vez na vida, for escolhido apenas um filme de Francis Fordo Coppola, que seja O Poderoso Chefão - na sua íntegra, claro. Casablanca fora esquecido completamente. Scorcese também foi descartado dessa lista. Pelo menos a loirinha dos Kennedy não foi esquecida. Filmes como O Planeta dos Macacos, Quem vai fica com Mary?, Alien, A Morte Pede Carona, Onze Homens e um Segredo e Uma Linda Mulher deveriam ceder, gentilmente, seus postos a filmes que, de fato, fizeram a história do cinema. James Stewart não teve oportunidade a uma atuação sequer.

Pergunto-me, ainda, o que aconteceu com Crepúsculo dos Deuses, 12 Homens e uma Sentença, Psicose, Scarface, A Lista de Schindler e com os outros filmes já citados... devem ser ruins demais aos olhos da crítica da revista. Pra piorar, a revista sequer mencionou algum filme nacional. Apesar da nossa televisão, o cinema brasileiro tem filmes muito bons.
Enquanto isso vou comprando os títulos que valem a pena. E repito a velha frase: Lê a Veja? O azar é seu.

terça-feira, 28 de abril de 2009

O tempo conta um conto

Contam que, lá pelo inverno de 1975, um novo casal havia se formado no mundo. Marion conheceu o Sr. Tempesta num Café, umas quatro quadras de sua casa. Aquela estava com seus dezoito belos anos e este já passara da casa dos vinte. Conheceram um ao outro, conheceram-se melhor - se é que me entende - e, num lapso de quatro meses, estavam vivendo juntos. O amor estava à flor da pele e paixão nunca se apagara. Seria mais um daqueles casais tradicionais, vivendo até que a morte os separasse.

Em 1990, Marion levantou-se com de praxe, olhou-se no espelho como sempre fazia e, ao ver o reflexo de Tempesta deitado na cama, a vaidade tomou conta dela, já que percebera que estava, digamos, mais inteira que seu marido. Continuava bela, com rubras bochechas e olhos da cor do infinito. Estava com o mesmo aspecto de dezoito anos atrás, corada, com pele tal qual veludo. Ele já ostentava algumas rugas, barba meio-termo e um bigode um pouco amarelo, almejado após anos de fumo. Naquela manhã não compreendera por que estavam assim: ela tão nova, parecendo que havia dormido uma noite apenas e ele, que teve sua juventude absorvida pelo tempo, estava na sua meia-idade.
Tempesta finalmente acorda e, para a fatídica surpresa de ambos, nesses quinze anos passados, não somente ela deixara de envelhecer, como ele envelhecera pelos dois; parecia ter passado mais de trinta anos para esse pobre rapaz. Teve dificuldade para levantar-se. Sua vista era turva e seus ossos não eram fortes como outrora. Suas lembranças era para ter sido acrescidas de quinze, e não mais de trinta anos. Contam que, a cada ano passado, o tempo lhe dava mais um. E quando estava com cólera total, ainda lhe dava uns meses a mais. O tempo se mostrou amante de Marion; mostrou tamanha paixão por ela, ao ponto de usar seu ofício para sucumbir seu companheiro.

O casal fazia tudo para que o tempo passasse mais devagar. Gladiavam com ele; faziam das menores coisas as melhores lembranças. Já não se importava com a idade, não tinham saudade. Não a tinham porque saudade dói, e eles se mostravam demais forte para o tempo. Este, por sua vez, cada vez com mais ira, fazia os anos passarem como o vento para Tempesta. Sempre deixara escapar um mês ou outro de vida para Marion naqueles dias em que se encontrava embriagado com tanto ódio e solidão. Todas as lutas contra o tempo foram vãs. Quer dizer, em todos os momentos possíveis, o tempo - sem querer - arrastou-se àqueles pés, lutando para correr.

Reza a lenda que, após 2005, o velho sr. Tempesta já não agüentava tanto maltrato do tempo. Estava com seus cento e oito anos, lúcido, lutando dia após dia para sobreviver ao lado de sua amada, com, no máximo, 26 anos. O que queria o tempo? Ele queria Marion.
Em meados de agosto de 2005, o sr. Tempesta não pôde suportar tanto peso, tantas rugas e sucumbiu, deixando Marion sozinha, aos cuidados do tempo. Vai, meu amor, esperar-te-ei nascer de novo, já que minha sina e viver aqui, em função do tempo, disse ela, num último suspiro, numa última agonia.

A partir de então, o tempo observara, noites a fio o pranto da pobre garota, acompanhara sua solidão que, se dependesse do guardião do destino, seria quase que eterna. A cada dia corrente, o tempo tentou de todas as formas se aproximar dela, prometia a vida eterna, prometia somente as melhores lembranças; poderia ela fazê-lo seu capacho. Mas Marion mal falava, apenas sussurrava o nome do seu marido, durante dias seguidos. Dizem que o tempo enlouqueceu. Dizem que coisas estranhíssimas começaram a acontecer no mundo. Diz a boca pequena que uma pandemia aconteceu no começo de 2006, a qual estava prevista para o início de 2009. Houve um rapaz - pelo menos no cinema - que viveu a vida de frente para trás; um tal de colapso econômico, previsto para meados do século XXI, aconteceu no final de 2008. Ninguém compreendia. O tempo havia perdido o juízo, diziam todos. E foi o que realmente aconteceu. O tempo foi criando barba, foi morrendo e jamais compreenderá que, não é ele quem domina o amor, e sim este tem total poder sobre o tempo. O amor brinca com o tempo; o tempo é instrumento do amor. Por tamanha besteira, o tempo pagará com a insanidade eterna, terá sempre de trabalhar a serviço de tal sentimento e a pobre Marion ficará nas mãos quase que eternamente de um tempo tão sozinho quanto ela.


*Inspirado na música "O Tempo" do grupo Móveis Coloniais de Acaju*

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Irmã

"Em fevereiro de 2005, a irmã Dorothy Stang, de 73 anos, foi brutalmente assassinada. Ativista na defesa do meio ambiente e das comunidades carentes exploradas por madeireiros e donos de terra na Amazônia, a freira americana foi executada com seis tiros no interior do Pará. O documentário revela os bastidores do julgamento dos assassinos de Dorothy e investiga as razões de sua morte e seus verdadeiros mandantes. Por trás do drama criminal, vem à tona o legado de seu trabalho humanitário na floresta brasileira."

Essa é a sinopse do documentário sobre a 'irmã' Dorothy, assassinada no interior do Pará. Só faltava essa... um filme pra defender uma senhora que veio lá dos Estados Unidos enxer o saco das pessoas aqui no Brasil. Essa senhora não fazia nada senão incitar os sem-terras a invadirem propriedades alheias, grandes ou pequenas. Não só ela, mas todo religioso que se mete nos interiores faz esse tipo de coisa: manipula a mente daqueles menos favorecidos pelo intelecto para obter alguma vantagem. Vai dizer que vocês pensaram que a irmã era uma santinha? Nada disso. Ela causava o mal no interior. Um dia qualquer, alguém cansado por tanta incitação da irmã, alvejou seis projéteis nela. Que pena; não precisava ser assim, também.

O fato é que ela se passa como santa ou 'mulher boa'. A verdade é que ela era o oposto do que se diz nos jornais (palmas para a imprensa brasileira). Por fontes seguras, tive acesso à informações sobre os autos do processo sobre o assassínio e derivados. O coitado do rapaz que foi preso inúmeras vezes (acho que é o 'Bida') nada tem a ver com a morte. Tem apenas aquele que confessara seu crime. Agora, por que omitem a verdades? No primeiro julgamente, Bida foi declarado inocente. Não contentes com a derrota, ONG's, grupos religiosos, padres e afins pressionaram demais para que esse julgamento fosse anulado. De fato foi. E agora? Já que o Judiciário não tem lá esses créditos, o que acontecerá no segundo julgamento? Será que a vontade de um monte de ortodoxos que insistem em influenciar no Estado prevalecerá? Temo que sim.

O que mais acontece pelos interiores desse Estado é a presença de religiosos incitando invasões, semeando a discórdia. A troco do quê? Antes a Dorothy tivesse voado em balões... a mídia daria menos atenção a essa palhaçada.

P.S. Não sou dono de terras, nem tenho vínculo com alguma das partes (longe de mim!), mas chega uma hora que tanta balbúrdia cansa.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Malandro com contrato, com gravata e um liberal, que nunca se dá mal

Acompanha-se nesses dias a denúncia de funcionários laranjas na Câmara Municipal. Isso nunca aconteceu, não é? É um fato totalmente novo para o povo de Belém (ou do Brasil). Mais uma vez os nossos jormais - quando querem vender - põem uma manchete outrora omitida da população, só para lucrarem mais. Por que não denunciaram antes? E por que não denunciam de todos os vereadores dessa cidade?

O Pará tem o jornal que merece. Aí o povo se revolta com tamanha malícia. O povo quer justiça; ele está certo. Porém deveria ter tido tal clamor bem antes. E não o fez porque a imprensa provavelmente tinha uma manchete na manga que venderia bem mais que essa. Aí, agora que a Dorothy morreu e o pedófilo correu, eles estavam sem uma manchete impactante; devem ter achado um esboço qualquer numa gaveta remota e resolveram publicar. Falando na Dorothy, nenhum jornaleco diz, também, que ela incitava os sem-terras a invadirem fazendas alheis, se não a imprensa poderia sair de vilã.

E ainda reclamam que eu não leio jornal... É tudo uma farsa. Tudo gira em torno de interesses. A conspiração vai desde um clássico futebolístico à queda de prédios em Manhattan*.






*Todo mundo já é crescido e pode saber que um prédio atingido não cai bonitinho daquele jeito. É muita dinamite, meu amigo... Quem sabe Obam... opa, Osama sequer exista; quem sabe seja o Bush de barba e turbante.

A favela é Hollywood

Demorei para assistir Quem quer ser um milionário? (Slumdog Milionaire - 2008), mas finalmente o fiz. O filme ganhou Oscar de melhor filme e mais uma série de outros. É um filme muito bom, salvo alguns detalhes. Penso que só lhe fora atribuído a estatueta de melhor filme por não haver competidores à altura (dos concorrentes, assisti apenas Milk, e achei este bem melhor). Tudo bem que o Oscar tenha sua panelinha, mas talvez o filme tenha adquirido várias estatuetas por mostrar aos estadunidenses (não pelo diretor, qu eé britânico, mas à academia) uma miséria fora da realidade deles. É, uma Índia com crianças vivendo por si e pelo destino. Para os estadunidenses, o mundo termina no Alasca.

Contudo, para nós brasileiros, defensores da nossa pátria amada (salve, salve), o filme mostra apenas uma realidade já conhecida. Afinal, crianças trabalhando em lixões não é nada de absurdo para nós, certo? Aproveitadores 'caça-talentos', também. Tudo bem que o filme gire em torno de um menino da favela que consegue 60 milhões de rúpras em um programa, mas admitir que, aos 9 ou 10 anos, ele e seu irmão fale inglês com tamanha perfeição é um erro belíssimo por parte do diretor. Não é preconceito, mas onde o pobre coitado aprende e fala inglês, na situação em que estava, aos 9 anos de idade?

Outro aspecto, no mínimo curioso, é o fato de, no desenrolar da trama, a língua natal ser deixada de lado e dar lugar ao inglês. No início, todos são normais: falam hindu entre si, afinal o filme inteiro se passa na Índia. Porém, no decorrer da história, o inglês começa a interferir na história, os hindus começam a falar inglês entre si. Pelo amor, Danny Boyle... e ele ainda ganha Oscar de melhor diretor. Talvez isso mostre a interferência ocidental sobre as demais culturas; uma imposição desinibida e arbitrária. Muitos acham que, se o filme não tiver o inglês como idioma, será horrível. Para quem já assistiu Apocalypto, do Mel Gibson, sabe que é um filme excelente sobre o povo Maia. Detalhe: o filme inteiro é falado no dialeto maia.

E para terminar, nada como um bom e velho cliché hollywoodiano. O roteiro é formidável, mas não precisava terminar desse jeito, com um beijinho apaixonado do casal que lutou a trama inteira para ficar junto ao final. Por quê? Num filme cheio de pecados, pra que errar logo no final? Era o final que todos esperavam: Jamal ganharia o prêmio máximo e se casaria com a moçinha. Filme de Sessão da Tarde. Se não mostrasse as dificuldades que Jamal enfrentou para chegar lá, seria possível que Quem quer ser um milionário? fosse um filme regular, apenas. Mas, fazer o quê? Se fosse feito um Oscar entre todos os já vencedores da estatueta, esse filme não teria a menor chance.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Doce ilusão

Ah, o mundo do Direito. Nunca quisera fazer parte dele. Nunca. Talvez o quisesse no meu inconsciente; talvez no alter ego tímido e taciturno, lá no fundo. Mas minha lucidez nunca permitiu tal devaneio. Pestanejei uma, duas vezes, mas cá estou. O assombro de ser um 'profissional do direito' me tortura cada dia corrente, a cada giro da nossa Terra. Talvez se acreditasse no deus idolatrado por muitos dos brasileiros, talvez pedisse para ele aparecer e levar essa ânsia embora; venderia minh'alma a ele. Por que não? Talvez ele seja mais rico que o anjo caído. Ah, chega de mitos católicos apostólicos romanos.

Mas, o que fazer nessa corrida incessante pelo sucesso, e por que não, pelo dinheiro? Sinto-me um estranho no ninho, sinto-me perdido e atordoado em meio a uma aula de Direito. Não entendo (não em sentido estrito) aquelas discussões idiotas e sem lógica. Não pertenço, de maneira alguma, ao mundo do Direito. Outro aspecto importantíssimo: há alguma coisa mais nojenta do que aquele acadêmico de Direito (porque chamar de estudante é ofensa) que jura que já é advogado? Aquela fala autoritária, aquele cabelo certinho, aqueles livros que - no final das contas - ninguém sabe pra que serve... Ah, faça-me o favor. As teorias gerais me roubaram um ano. Seqüestraram minha mente para falar de coisas que, no final do curso, ninguém se lembra (infelizmente).

Pode ser que a única coisa que sustenta minha tristeza nesse curso seja Direito Penal. Eu gosto muito, admito. Mas vejo essa área de um modo alheio às outras esferas desse mundo. Aqui eu vejo as loucuras do ser humano, suas barbaridades, seus medos. Os homicidas não me impressionam. As mentes psicóticas não são repudiadas por mim. Eu as analiso e temo cada dia mais a violência. Mas a nossa vida é isso: violência. Não há como negar. O mundo só tende a piorar. Temos que nos acostumar com isso. Temos que nos acostumar com o sangue, com as vísceras, com o grito de socorro do José, com o pranto da Maria, com a alegria do projétil órfão ao encontrar sua morada. Temos que ser seres humanos, fortes e sãos.

Meu clamor será eterno, minha mágoa, não sei que vida terá. Por enquanto tem a minha. Isso é mais que um desabafo. É um testemunho doentio. Perdi minha habilidade para a escrita, minha criatividade. O curso está me matando. Pena que o mundo é mundo e nós - às vezes - somos empurrados para uma trilha indesejada. Pena eu ser fraco e apenas ensejar um sonho - e não fazê-lo, construi-lo; o que sustenta minha lucidez são os romances lidos, os filmes vistos... Um dia serei alguma coisa. Um dia.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Liberdade ainda que tardia

Dia 21 de Abril comemoraremos mais um feriado. Esse é um dos melhores, até porque foi quase que inventado. É chamado, também, de "Tiradentes". Para muitos, Tiradentes (ou Joaquim José da Silva Xavier) foi um grande homem. Para mim, foi apenas o maior laranja da História. É, isso mesmo.

Raciocinemos: A Inconfidência Mineira surgiu a partir da classe favorecida e intelecuais da época. Padres, coronéis, poetas e mineradores integravam esse grupo revolucionário, entre eles o poeta Tomás Antônio Gonzaga. Eles começaram a tramar uma revolução após a famigerada "Derrama", onde a Coroa determinou que as jazidas de ouro deveriam entregar um total de 100 arrobas de ouro anuais a Ela. Houve fatos alheios a isso, também. Já que o negócio era o ouro, claro que atingiu as classes mais favorecidas. Eles queriam cessar a influência da Corte portuguesa sobre Minas Gerais e torná-la um país livre. E onde entra Tiradentes nessa história? (No mesmo lugar que entram as empregadas domésticas dos vereadores e deputados.) Ele era um mero alferes: ou seja, tinha a patente mais baixa possível do exército. Agora querem dizer que esse pobre soldado liderava uma revolta que dizia respeito ao ouro e de cunho intelectual? faça-me o favor... O que o coitado do Tiradentes tinha a ver com o ouro?

Esqueça também essa figura barbuda e cabeluda de um revolucionário que deu a cabeça (literalmente) pela Pátria. Uma coisa lógica: Tiradentes era soldado, logo, tinha cabelos curtos e não tinha barba. O máximo que o Exército autorizada era um bigodinho. Acho que essa coisa de cabeludo e barbudo morrendo pela pátria dá um ar melodramático para a coisa. Nem jesus era aquele galã dos filmes. No dia da sua execução, Tiradentes estava careca e sem barba. Agora me diz por que insistem em mostrar imagens de um Joaquim Xavier tão barbudo assim? Acho que os livros de história vendem mais dessa forma.

Outro detalhe importante é que, dos doze acusados, todos os inconfidentes foram condenados à morte, mas adivinha quem foi o único que foi à forca, de fato? Ele, o nosso herói. Um dia após o anúncio das condenações, D. Maria I leu um decreto que trocava a pena de todos - menos Tiradentes -, para exílio em colônias portuguesas na África. Será mesmo que Tiradentes é essa coisa toda que cresceu ao longo dos séculos? Creio que não. Mas não vou falar mal do coitado. Jogaram-no no meio da tormenta, ele foi esquartejado, tido como símbolo sem fazer absolutamente nada e nos deixou um feriadão. Diz se ele não é o maior laranja da História...

Soneto

Porque eu me desconserto ao seu semblante
Nem a loucura se fez taciturna
Nem Perséfone, em Hades aduna
Beleza, pudor, como a tal amante

Átona, tônica, soneto errante
Italiano; palavras uma a uma
Quem as fez, que, na escuridão, as una
Para que vos padeça dor uivante

Nem que um dia volte minha chama e esmero
Nem que eu ria sua dor, chore seu deleite
Nem que Atena me desatine em vida

Talvez meu amor, de novo, me rejeite
Eterna, quiçá, minh'alma partida
Ainda sim, brado-te: como te quero


(soneto antigo)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Eventual e consciente

Estava estudando Direito Penal esses tempos a fim de me preparar para a prova de hoje e, na parte de homicídio me deparei com uma questão já verificada antes: a distinção entre dolo eventual e culpa consciente nos acidentes de trânsito. É uma questão interessante e, considero eu, bastante subjetiva. E para essa questão, apoio-me nas lições de Rogério Greco, visto que ele é bem enfático na questão de que não se pode levar como uma equação matemática absoluta a 'embriaguez + velocidade excessiva = dolo eventual'.

No homicídio, o elemento subjetivo é o dolo, tendo o agente atuado com animus necandi. No caso, diz-se que a infração é comeitda por dolo direto ou, algumas vezes, possui o título de dolo eventual. Pelo que estudei em Direito Penal, o dolo eventual surge quando o agente não se importa com o resultado que está por vir; assume o risco do mesmo. Logo, ele sabe que poderá acontecer. Na culpa consciente, o agente prevê o resultado mas, confiando nas suas habilidades, presume que poderá evitá-lo sem causar danos a outrem. Ele não quer que o resultado acontece e não se pode dizer que o mesmo não se importa com o resultado; na sua mente, ele evitaria qualquer resultado lesivo a terceiros.

Já ouvi gente falar que todos que dirigem embriagados e cometem acidentes deveriam ser presos e salvo engano, não sei se houve algum projeto de lei assegurando que todos os que fizessem vítimas fatais em acidentes de trânsitos - estando esses embriagados e em alta velocidade - responderiam por homicídio doloso (com dolo direto ou eventual). Para mim, isso é deixar a doutrina de lado e generalizar algo bastante subjetivo. Nota-se que essa culpa consciente ocorre na mente do infrator, uma vez que ele confiava nas suas habilidades, confia sinceramente. O dolo eventual é retirado dos fatos em si, e não da mente infratora. Aqui, a possibilidade do resultado é antevista, entretanto o agente assume o risco.

Sendo assim - e concordando plenamente com Greco - o clamor social, a vontade dos leigos não pode modificar o direito, ou a doutrina penal. É comum ouvir pessoas dizerem que 'todos aqueles embriagados que dirigem rápido devem ir para cadeia'. Não é bem assim. Se você, depois de sair da comemoração do vestibular do seu filho, tenha tomado umas cervejas a mais e lembra-se que tem, na casa da mãe, um jantar com toda a família e está atrasado. Pega rapidamente sua esposa e filhos, vai em alta velocidade a fim de chegar a tempo do jantar - confiando nas suas habilidades - acaba perdendo o controle do carro e matando toda uma estirpe. Quis esse agente cometer o delito ou assumiu esse risco, não se importando com o resultado? Se você não for de Porto Alegre, claro que não quis. São coisas que devemos parar para pensar e não tomar como regra absoluta. Mas nosso Estado Democrático de Direito é uma maravilha; nada de ruim acontecerá. Quem sabe esse pai do exemplo seja condenado. Ou, para burlar nosso Estado e se valendo das lacunas legais, renuncie ao cargo de pai, a fim de que ainda possa sê-lo no futuro.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Coringa - ou Curinga

Muitas são as histórias do personagem dos quadrinhos, o Coringa - originalmente 'Curinga', o correto, modificado por ser 'feio'. Há de se perceber que o Coringa dos quadrinhos é bem diferente daquele das telas do cinema. Nas revistas, ele era, a priori, chamado de capuz vermelho. Esse bandido cai, acidentalmente, num tonel de produtos químicos e é dado como morto, mas reaparece 10 anos depois, louco, com cabelos verdes e pele branca. O melhor dos quadrinhos é Batman: A Piada Mortal. Nessa história o Coringa tenta mostrar que a pressão psicológica pode fazer com que o ser humano se encontre num abismo entre a lucidez e a loucura, chegando ao ponto de escolher essa segunda para amenizar seus pesares. Ele invade a casa do comissário Gordon, seqüestra-o, atira no estômago da sua filha - a Batgirl - e, supostamente, a violenta sexualmente. Depois, Jim Gordon é levado a um parque de diversões onde, andando em uma montanha-russa, vê passar diversas fotos de sua filha sendo violentada pelo Coringa. O vilão tenta implementar a loucura na cabeça de Gordon, mas não consegue. Ao final, o Coringa conta uma piada onde o Batman, primeiro, dá um sorriso de lado e termina com os dois gargalhando sem parar. Dizem que o alter ego do Coringa é Jack Niper; talvez Batman e Coringa sejam respectivos alter ego um do outro.



Passando para os coringas do cinema, temos Tim Burton e Christopher Nolan dirigindo, respectivamente, Jack Nicholson e Heath Ledge. O Coringa interpretado por Nicholson se aproxima mais do clássico. É brincalhão, palhaço, sarcástico. Suas armas são diferentes, como a flor que jorra ácido, o botão que mata a pessoa com o choque e o gás do riso. No filme de 1989, é mostrado que Jack Niper cai em um tonel após um tiro resvalado acertar-lhe o rosto. Após uma cirurgia frustrada, Niper fica com um eterno sorriso no rosto. Fica, ainda, com cabelos verdes e a pele completamente branca. Nasce o sarcástico e eterno Coringa do cinema, o qual distribui dinheiro para as pessoas para mostrar que ele não é tão ruim assim. Possui insanidade na medida certa.
Em 2007/2008 nasceu um novo Coringa, imortalizando Heath Ledge. Esse personagem bem mais contemporâneo beira a loucura completa. É um Coringa anarquista (num sentido chulo), sem rodeios e muito, muito cruel. Aqui não se tem sua origem, salvo por uma citação do Batman de que aquele esquizofrênico fora recrutado por ele de Arkham (uma prisão/manicômio que aparece nos quadrinhos). Ele é pura e simplesmente louco, não caiu em nenhum produto químico; usa maquiagem e pinta o cabelo, possuindo, apenas, cicatrizes que ele mesmo dá diversas origens a elas. É uma loucura que beira a Ultraviolence bem apresentada em Laranja Mecânica ou em qualquer filme Tarantinesco. O Coringa de 2008 não tem nada a perder, e não quer ganhar; em certa passagem do filme, ele indaga que não quer ver o Batman morto, visto que eles se completam ("You complete me"). Talvez aqui tenhamos aquela relação de alter ego mútuo, onde, quem sabe, Coringa e Batman jamais se separarão. Serão um só ato, uma só força; uma só violência.

Iñárritu

Filmes quase poéticos. Assim defino as películas do diretor mexicano Alejandro González Iñárrutu. Com cenas de tirar o fôlego, os filmes possuem uma peculiaridade do autor: a atemporalidade a qual os filmes são mostrados. Amores Brutos, 21 Gramas e Babel. Todos são bons filmes; não são obras-primas mas são excelentes.

Amores Brutos (2000) foi o primeiro, carregado daquele castelhano que somente eles entendem. Lembro de ter visto n'O Liberal alguma crítica bastante ruim acerca deste filme, de 'um qualquer Passarinho'. Se bem que, tratando-se desse fausto jornal, não se pode esperar nada construtivo. Pois bem, é um filme, de fato, diferente, haja vista sua ausência de ordem cronológica. Apesar dessa falta, o filme prende a atenção do espectador do início ao fim, salvo pela parte do cachorrinho enjoado da modelo. No mais, o filme dispensa críticas absurdas.


21 Gramas (2003) é um filme um pouco mais maduro, não sei se pelo tempo ou se pelos seus atores. No primeiro, tinha apenas Gael García Bernal, ainda em ascensão. Agora, tem-se atores como Sean Penn, Benicio Del Toro e Naomi Watts, esta última em papel diverso do super filme de terror "O Chamado". Novamente, um filme sem ordem cronológica, onde vidas se cruzam num thriller excêntrico. Atropelamento, transplante, morte... Uma união não só fúnebre como explosiva de interpretações de dramas que realmente ocorrem na vida real, sem sequer nos importarmos. O refúgio nas drogas, a redenção com jesus (para os que acreditam)... tudo é mostrado.


O terceiro dessa quase trilogia é o mais conhecido. Babel (2006) com certeza não é o melhor dos três, mas chega a impressionar mais o espectador - talvez pelas suas cenas um pouco mais fortes. Nudez, apelo sexual, incesto... Falando em incesto, o filme mostra, mesmo que sem querer, que o incesto não é a aberração atribuída pela sociedade (Não, eu não sou fã Rodrigueano). Naquela família marroquina, eram apenas pai, mãe, dois irmãos e irmã. Para Freud, a primeira referência que o filho tem do sexo oposto é a mãe. Só que isso fica retido no incosciente, bem como o ciúme do pai. Sendo assim, a única referência explícita do sexo oposto daqueles meninos era a irmã. Loucura ou não, havia uma atração - no mínimo - institiva, animal. No mais, a união de histórias e vidas nesse filme cruza oceanos. Alejandro foi mais ousado, uniu continentes, temperou o filme com falso terrorismo, com a paranóia americana. Brad Pitt e Cate Blanchett figuram bem no filme, assim como - novamente - Gael García Bernal. O que mais me agradou no conjunto foi o título do filme ligado à história (ou História - ou estória) em si. Não é o melhor, mas é o mais forte. A ordem cronológica - ou a falta dela - aqui é bem menos complexa e mais fácil de entender. Babel e quase, quase comercial - ainda bem que não fora.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Kubrick

Eu juro que tento assistir aos filmes do Kubrick com uma visão mais crítica da obra de arte cinematográfica, mas não consigo. Talvez sempre crie uma expectatia que termina sempre frustrada ao final de cada filme. Kubrick é um gênio, talvez eu que seja suficientemente ignorante para a sétima arte. Mas deveras aconteceu com Laranja Mecânica, O Iluminado, 2001: Uma Odisséia no Espaço e Nascido Para Matar. Desses, o que mais me agradou foi O Iluminado. Acho que pelo fato de ser baseado numa obra de Stephen King tenha ajudado bastante.


A maior expectativa criada foi em cima de Laranja Mecânica (A Clockwork Orange - 1971) . É um bom filme e só. Ouvia rumores que era uma obra-prima do cinema. Talvez para os críticos; para mim - que sou um mero apreciador do cinema - é um bom filme feito por um ótimo diretor. A violência não me surpreendeu como o esperado -a chamada Ultraviolence. Entretanto, como todo bom filme do Kubrick, a trilha sonora é sensacional.





2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey - 1968) também é um bom filme, ainda mais para a época em que foi feito, 1968. É repleto de efeitos especiais relativamente absurdos, totalmente avançados para a época. O corte no tempo é gigantesco: passando dos nossos ancestrais ao espaço. A trilha sonora dispensa qualquer comentário. É lindo. Dá pra ficar de olho fechado e imaginar mil e uma coisas ouvindo a trilha do filme. A idéia de ter um computador que conversa com as pessoas é bastante avançado para a época. Mas, mesmo assim, faltou alguma coisa no filme. Talvez o cuidado de vê-lo com outros olhos.


Não poderia faltar um bom filme sobre a guerra do Vietnã. Nascido Para Matar ( Full Metal Jacket - 1987) é um excelente filme sobre a guerra. Esse até que superou as expectativas. Parecia ser apenas mais um filme de guerr, mas mostra o lado do treinamento e da tortura psicológica de um modo peculiar (não tanto quanto Apocalypse Now). Diferentemente de Platoon, esse filme mostra que jovens são treinados para serem máquinas de matar. É conturbante. É muito bom.


Palmas para O Iluminado ( The Shining - 1980). Apesar de não dar os sustos esperados (se bem que, se é susto, não é esperado. Enfim...), é um filme que mexe com a imaginação. A atuação de Jack Nicholson é primorosa, única. Somente ele sabe como interpretar personagens intrigantes e psicologicamente conflituosos. O garotinho também é muito bom, agora a mulher... Esse sim é um filme digno de um diretor genial, ímpar. Cenas cheias de horror e com uma boa trilha sonora (em relação aos demais filmes). Esse é um dos que vale a pena assistir várias vezes, até mesmo antes de dormir. Não se faz mais bons filmes de horror hoje em dia: são apenas recheados com sangue e gritos. Nada mais. Não têm uma história, não são daqueles thrillers que deixa o espectador ofegante e com as pupilas dilatadas. Palmas, mais uma vez, para Kubrick.

557

Enquanto fazia minha visita diária ao sítio G1, vi que a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo aprovou um projeto de lei que veta o fumo em ambientes públicos total ou parcialmente fechados. Bom, tentarei ser o mais imparcial possível, visto que parei de fumar - ou reduzi drasticamente. Excelente. É um avanço. Impedir que um fumívoro contamie o ar alheio é uma medida social muito boa.

Bela estratégia, já que um assunto desses, com certeza, cairia nas graças da mídia brasileira. Fingem muito bem a labuta. Vão pensar "Olha, os deputados estão trabalhando. Que bom para o Estado de São Paulo". Meus senhores, já olharam ao redor e perceberam que, envolta de vocês está tudo alagado? Não, claro. Já notaram a pequena violência instaurada, não só em São Paulo, como no país inteiro? Não, senhores deputados, vocês, em berço esplêndido, na mais absoluta calmaria de seus gabinetes, não notaram o caos que está São Paulo. Mesmo eu, com uma visão refretada pela mídia, a mais de 2.000 km, percebo que São Paulo está/é um caos. Particularmente adoro a cidade, mas não desejo sua morada a ninguém.

Então, senhores, trabalhem em algo digno (não que defender a saúde das pessoas sãs seja algo indigno), não tentem abafar as coisas ou mostrar trabalho com leis relativamente sem importância em relação ao estado em que se encontra vosso país. Não tentem mostrar trabalho com leis assim. Ajam, façam, trabalhem! Já que não vão, é um bom começo. Parabéns. O que vale é a intenção; parafraseando Chico Buarque: São Paulo é a cidade que não deu certo. Pelo menos aí presumo que não haja nenhum lobo-mal na Assembléia.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Carma

Belém - como cidade grande e desenvolvida que é - repleta de pontos de lazer, deveria ser, pelo menos, um pouquinho mais segura. Alguns sábados eu ia à praça do carmo, à noite, para jogar conversa fora com os amigos ou mesmo porque não tive opção de lazer. É até bom, calmo. Ficar sentado em meio à praça é sensacional; eu até entendo por que vem tanto turista pra cá. Agora, falando sério, não volto naquela praça tão cedo.

Todo santo final de semana, há inúmeros assaltos naquela ruela da igreja. É cruel. Enquanto a igreja descansa, seu povo faz a festa. Nunca estacione, à noite, naquela rua. Há uma chance enorme de ter seus pertences subtraídos. O mais engraçado é que todos sabem que ali é um ponto de venda de drogas e que há inúmeros assaltos, mas ninguém faz nada; fazer o quê? A polícia vai lá de vez em quando, pegar a sua "ponta" para não invadir o ponto e levar todos os meliantes. E os bons cidadãos ficam à deriva, num mar de iniqüidade e corrupção. Como diz a minha sábia vó, o pior bandido é aquele fardado.

Curioso é ver propagandas e propagandas de que houve concursos para milhares de guardas municipais. Cadê esses guardas? Cadê a liberdade. Ser refém do medo é sentir-se impotente para enfrentar o mundo. É horrível. Pará, terra de direitos? Que direitos? Direito de ficar em casa ou direito de colocar a película mais escura no carro com medo de sair à noite na rua? Direito de abrigar uma bala órfã? Direito de ter medo de ir comprar remédio. Direito de morrer? É, direito de morrer; fomos autorizados à realização da eutanásia.

domingo, 5 de abril de 2009

Interiorize-se

Sexta-feira fui levar meu irmão ao médico e como toda boa sala de espera, me deparei com revistas antigas. Folheei uma delas - a primeira que vi - como sempre faço: começo pelo final. Sei lá por quê. Cheguei onde queria: na coluna do ilustríssimo Diogo Mainardi. Como toda bela bosta que ele escreve (com o perdão da palavra), a dessa edição foi sensacional. Era alguma coisa relacionada a algum secretário chamado Altamiro Borges. Por se tratar de ser um nome similar a de uma cidade do interior do Pará, Dioguinho, a cada vez que citava o tal secretário, trocava o nome por alguma outra cidade interiorana.

Começou mal. Logo no começo, chamou-o de Ananindeua Borges. Depois chamou-o de Quatipuru Borges, Oriximiná Borges, etc.; cidades do interior, mesmo. Que pena o Mainardi viver em Manhattam e sequer saber o que é o Brasil. Se ele tivesse o mínimo de parcimônia, saberia que Ananindeua, diferente de Bujaru, Parauapebas, Ulianópolis e afins, não é cidade do interior e sim faz parte da região metropolitana de Belém. Se bem que ele nem deve saber o que é uma região metropolitana. Coitado.

Ah, ele ainda teve a coragem de falar mal do Arnaldo Jabor nesse mesmo artigo. Eu não sou fã do Jabor, nunca li seus livros ou assisti aos seus filmes, mas ele me parece muito bom. Agora, um merdinha desse vir falar mal de um cara assim... não dá. Enfim, que Mainardi continue bem longe do Brasil.

(Eu me sinto "péssimo", mas preciso falar isso)





Mainardi é tão incompetente que não conseguiu nem fazer um filho. Pronto, falei. Agora vou para o inferno e deus vai me castigar. Adeus.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Dia das mentiras (sinceras)

Existem várias versões para o surgimento dessa tradição. A que mais me interessa é a da frança, do Século XVI, onde, depois de adotar o calendário gregoriano, o rei Carlos IX determinou que as festas da virada do ano aconteceriam no dia 1° de Janeiro. Contudo, como francês é chato, teimoso e conservador, é claro que muitos resistiram a essa nova mudança e é claro que esses remanescentes foram gozados ironizados pelos outros, recebendo oferendas estranhas e convites de festas que sequer existiam. Logo, 1° de Abril.

No Brasil, o dia da mentira surge quando dissemos que está tudo bem; que nada acontece. Os tiroteios no Rio de Janeiro: mentira. Não existem. Os estupros covardes, tudo balela. As enxentes Brasil afora... é tudo intriga do DEM(O)! Paulo Coelho é o melhor escritor do país, deixando no chinelo Machado de Assis e Jorge Amado. Não há abuso sexual entra crianças no Pará e tampouco há deputados envolvidos nisso. O Dunga é o melhor que a seleção já teve. A língua portuguesa continua maravilhosa: os hífens, tremas e acentos apenas tiraram férias; estavam deprimidos por serem inúmeras vezes esquecidos pelos alunos do ensino médio, fato questionável, pois o Estado dá um auxílio enorme para o ensino público. Todas as nossas crianças têm merenda nas escolas; Josés e Marias votam conscientes, porque tiveram uma ótima estrutura cultural. Os jornais do nosso estado são imparciais. Tudo que há neles é a mais pura verdade.

Queimem os livros! Esqueça a ciência, nada é verdade. Acreditar na ciência é demodé. Os dogmas católicos estão com tudo no Século XXI; todos devem concordar com o papa: preservativo no evita AIDS. Claro, senhor papa, a camisinha ajuda na propagação do vírus. Proíbam a camisinha, pois o bicho homem tem repúdia ao sexo. Odeia orgasmos; as mulheres odeiam os múltiplos. Batizem uma nação inteira. Estaremos deitados eternamente em berço esplêndido. O primeiro de Abril do brasileiro dura 365 dias.

Olha o padre baloeiro voltando... É mentira. É primeiro de Abril. É festa. Ainda é carnaval.

quarta-feira, 1 de abril de 2009





Achou engraçado? Eu achei. Muito.

Harvey


Quem já assistiu ao filme Milk - A voz da igualdade (Milk - 2008) sabe o quanto é impactante. Digo impactante não pelas cenas homossexuais quase que explícitas (o que hoje em dia é normal, basta esquecer o preconceito e querer enxergar), mas sim pela forma como os homossexuais eram tratados nos Estados Unidos. Era terrível. A repressão, o preconceito assíduo, as doenças... Tudo. Agora - pelo lado do cinema - quem estava acostumado ao ver Sean Penn em papéis de machão, se surpreende e muito com a sua atuação. É esplendorosa. Gus Van San, ao contrário, já teve dias melhores. Se bem que, depois de Elefante, tudo que ele fizer, com certeza, terá um filme pior.




Fica claro que - pelo menos no filme - Harvey Milk lutou pelos direitos dos homossexuais estadunidenses. Na verdade, nem precisava. Todos têm direitos e são iguais, independente da opção sexual. Só que o tão poderoso Estados Unidos da América é, pelo menos fora outrora, um país conservador. Nunca quis admitir a sua enorme comunidade gay. Será por medo? Será que porque talvez "deus" não permita essas coisas? É, provavelmente uma crença barata dessas deva ter feito a cabeça de milhões de pessoas na época (quiçá até hoje) contra os gays. Dizer que homossexualismo é doença, no mínimo, deve ser ignorado. Mais ignorada deve ser a igreja caótica, digo, católica, por não aceitar pessoas comuns com opções diferentes. Pra falar a verdade, a igreja não aceita nada, só dinheiro e crianças. (Já vi que jesus vai me processas por calúnia)

No mais, fica claro no filme como o ativista lutou para explicar às cabeças arcaicas que homossexualismo não se aprende como se aprende uma matéria no colégio nem é contagioso. Caso contrário, todos em volta de um homossexual tamém o seriam. É uma propositura ridícula.

P.S. Uma coisa é ser gay; outra é fingir ser ou ser apenas porque está na moda ou porque seu amigo é e tu achaste legal.

P.S 2 Eu não sou. Apenas acho que esse é um preconceito que já deveria ter sido superado há tempos.

terça-feira, 24 de março de 2009

Minha vida, minha morte



Não lembro se já escrevi sobre isso aqui e estou com preguiça de fuçar no arquivo, mas é interessante a discussão sobre ter uma morte digna. É claro que se o homem soubesse o dia exato e a hora em que fosse morrer, desde o seu nascimento, sua vida não seria dotada de valor moral. Pois bem, se uma pessoa sã, que perde o que mais lhe dava razão para viver, não se sente mais apta ao mundo, por que prendê-la a ele? Por que submetê-la a tal martírio?

Em meio às várias discussões acadêmicas e do próprio cotidiano, tomemos como exemplo dois filmes; um de grande conhecimento geral e outro, nem tanto (porém deveria sê-lo bem mais que o primeiro). No filme Menina de Ouro (Million Dollar Baby - 2004) , a protagonista, que sonhara em ser uma grande lutadora, reconhecida mundialmente, quase chega lá. Uma lesão na medula espinhal fez com que ela ficasse paralisada do pescoço para baixo, imóvel, inerte. Agora, que dignidade essa pessoa tem, se o mecanismo para seu sonho o fora roubado (seus músculos, seu corpo)? Se é de sua vontade, que seja feito o suicídio assistido, visto que, no filme, a personagem tenta o suicídio ao morder a própria língua, já que era um dos únicos movimentos que lhe restara.


O filme Mar Adentro (Mar Adientro - 2005) - por sinal, superior ao primeiro - narra a história de Ramón (Javier Bardem), que já inicia tetraplégico e, durante toda a trama, luta contra a justiça para poder ter uma morte digna, já que estava há anos naquele estado. Luta pois sequer consegue cometer suicídio. É um final previsível, triste, mas que, em hipótese alguma, dispensa sua apreciação.
De acordo com a Tanato-ética, há uma diferença entre eutanásia e suicídio assistido. Na primeira - eutanásia ( eu - boa; thanatos - morte), desliga-se a fonte que sustenta um enfermo de anos, em estado vegetativo. Não há uma autorização expressa para essa morte. É o que aconteceu no caso da italiana mostrado na mídia. Suicídio assistido é o que acontece na maioria dos filmes; é uma morte com a autorização do indivíduo.
Todos deveriam se preocupar com a morte. Todos. Às vezes, sofrer numa cama, imóvel, pode ser pior que a morte. Ferir a dignidade é ferir a vida do ser humano.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Exoterismo Barato

Claro que todos conhecem o nosso 'grande' escritor brasileiro chamado Paulo Coelho. Sua fama no exterior é estrondosa, seus livros são traduzidos para vários idiomas e, por cima, um dos seus livros virará filme em Hollywood (grande merda). Quem vê tais fatos espera um escritor, no mínimo, excelente. Porém a realidade é outra. Entre orgulhos e vergonhas de ser brasileiro, eis aqui algo que deixa qualquer brasileiro sensato de estômago embrulhado: a escrita do nosso "intelectual mais importante do Brasil" (segundo ele mesmo).

Sem rodeios, é uma escrita pobre, sem valor algum, repleta de erros de concordância, os quais são abafados por edições posteriores e omitidos nas traduções mundo afora. Suas metáforas conseguem ser piores do que as do Presidente Lula. Mostremos, então, algumas de suas frases para que, depois, não digam que é implicância ou picuínha.

"Não existe nada completamente errado no mundo, mesmo um relógio parado, consegue estar certo duas vezes por dia" Pelo amor... o dia do coitado só tem doze horas. Apesar de existirem os relógios tradicionais, de ponteiro, existem relógios digitais que marcam a hora (de acordo com o horário do Brasil), de 00:00 às 23:59. Pobre Paulo.

"Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você realize o seu desejo." Claro, eu desejo todos os dias ganhar na mega-sena e até hoje... nada. Talvez deus esteja meio ocupado conspirando com o universo inteiro.

"Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela." Eu acredito ser um chefão da máfia italiana, podre de rico. Cosmo e Wanda, cadê vocês?

"Tudo que acontece uma vez poderá nunca mais acontecer, mas tudo o que acontece duas vezes, certamente acontecerá uma terceira." E assim segue: tudo que acontecer três vezes, certamente acontecerá uma quarta. Uma mãe que só tem um filho, dificilmente terá outro, mas se tiver dois, é melhor fazer laqueadura.

"Que minhas lágrimas corram para bem longe, para que meu amor nunca saiba que um dia chorei por ele." Não se preocupe, Raul Seixas já morreu.

"Amor só descansa quando morre.Um amor vivoé um amor em conflito." Claro. Mate sua mulher amada e viva feliz para sempre.

"Deus com Sua infinita Sabedoria, escondeu o Inferno no meio do Paraíso para que nós sempre estivéssemos atentos." Ele só esqueceu de pedir emprestado para Dante o purgatório.

"O maior de todos os pecados: o arrependimento." Arrepender-se deveria ser proibido; reconhecer um erro e pedir perdão é algo inconcebível nos dias de hoje. O arrependimento, na verdade, é a redenção para um pecado. Sábias palavras, mestre Paulo.

"A vida fica mais fácil quando gostamos do que estamos fazendo" Quando fazemos o que odiamos, a vida fica tenebrosa. É quase um silogismo.

Que pena.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Pest

Li Budapeste - obra de Chico Buarque - duas vezes. Foram necessárias essas duas vezes para compreender a real essência do livro. É sensacional. Termina o livro e tu pensas o que realmente a história é; mas depois pensas que aquilo é quase incabível. Porém, é tudo verdade. É como se colocasses um espelho na frente de outro espelho: eis o infinito de imagens semelhantes. Surge, aí, um imbróglio de imagens, idéias e fantasias. A essência do livro é tão densa que chega ao ponto em que o leitor pensa ser o José Costa - ou o autor do livro. E, ainda, o autor da obra, majestosamente, inclui-se no livro, na pele do "Sr..." (tudo indica que essa personagem seja o próprio Chico).

Até boa parte do livro, é apenas um ghost writter que transita do Rio de Janeiro à Budapeste, sem muita convicção. Contudo, a história toma tal rumo que deixa o leitor atordoado com o tamanho da sua complexidade e beleza. Nada era real; o livro não é real. Nada aquilo escrito existe. O livro nas mãos do leitor é o mesmo livro nas mãos do personagem. A leitura é a mesma.

O Budapeste é o livro do José Costa (ou Zsosé Kósta), é um livro recheado de fantasias com narrativa que, a princípio, é verdadeira. O Budapeste é de quem o lê, é sem dono. É como se cento e setenta páginas fossem do leitor, e as restantes do real autor; é sentir-se um autor. É ter uma obra escrita por um ghost writter. É uma sensação única lê-lo.

Voltei

Bom, depois de sei lá quanto tempo parado, acho que voltarei a escrever aqui. De quando em quando, se minha cabeça me permitir, se minha sanidade gostar. Ah, e eu não respeitarei essa maluquice de reforma ortográfica. Ninguém roubará meus acentos, meus hífens e meus tremas.


Grato.