sexta-feira, 7 de março de 2008

Autobiografia do Vento.

Eu danço com árvores, existo sem ninguém me ver. Ouso dizer que sou assim como um sentimento: ninguém me vê; faço o que quiser. Construo, destruo, mas todos me sentem. Levanto aviões, derrubo aviões. Sou o fiel companheiro do ar; os pássaros nadam em mim, me amam. Sou forte, sou fraco. Até movo as nuvens. Eu sou realmente forte. Tenho mãos, pernas, tenho nada.

Os homens sempre sonharam pairar sobre mim, em mim. Alguns entorpecidos tentaram, mas padeceram. Ícaro e Dédalo conseguiram; mas, pobre Ícaro. Ousado, ambicioso, não sabia que o meu amigo mais poderoso que eu derreteu suas assas de cera. Faço carinho nas flores, as fecundo. Fecundo fungos, faço façanhas. Faço florir a flora; fecho fábricas. Quando estou quente, subo; quando frio, desço. Não brinque comigo. Em algumas cidades, fico doente, sujo, violado.

Quantos anos tenho? Quantos anos tens? Quantos anos ela tem? Quantos anos... Joga-te em mim qu'eu te seguro, te auxilio. Eu não me importo. Se há queimada, eu espalho fogo. Se há chuva, eu rego os homens; se há prazer, eu adormeço os órgãos. Eu vivo em sã consciênca, em vã liberdade. Caso eu não viva, quem moverá o mundo? Eu sou a Roda viva.

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