segunda-feira, 25 de abril de 2011

Transexual: um ser indigno?

Nas inúmeras lições de Direito – independentemente do ramo –, é sempre dito que é preciso ter dignidade. O ser humano deve ter dignidade, viver com tal. Contudo, ao se deparar com a discussão moral, social, civil, constitucional e, além de tudo, biológica, a dignidade humana é sobreposta por um impasse histórico e cultural: a mudança de sexo.

As várias (e diferentes) decisões judiciais surgem para aumentar tal discussão. Ora, algumas vezes é dito que não se pode mudar de sexo; por outro lado, decisões dizem que em possível, contanto que seja discriminado em documentos da pessoa que esta é transexual. A evolução das decisões mostra ao mundo uma evolução filosófica e cultural dos juízes do país. As mentes pensantes que estão por trás das decisões que indeferem os pedidos de cirurgia para mudança de sexo devem ser as mesmas que defendem a idéia de que um ser humano não pode dispor da sua própria vida; é incabível tal pensamento em face das mudanças sociais. Em um acórdão sobre a questão, é possível ler tal frase: O sexo integra os direitos da personalidade e não existe previsão de sua alteração; a identidade sexual deve ser reconhecida pelo homem e pela mulher, por dizer respeito à afetividade, à capacidade de amar e de procriar, à aptidão de criar vínculos de comunhão com os outros. Claramente se nota a tentativa desatinada do desembargador em defender suas convicções ao dizer que a identidade sexual diz respeito à afetividade e à capacidade de amar, visto que o mesmo não se recordou que existem seres humanos incapazes de amar ou sentir qualquer empatia com o próximo: os psicopatas. Logo, nesse lamurio pensamento, os psicopatas (sendo estes doentes mentais, apesar de terem total discernimento do que fazem e, ainda, estarem cientes da sua apatia) não se encaixam nesses padrões sociais e poderiam, por exclusão, realizar a cirurgia.

O problema do imbróglio é que o transexual não é tratado como ser humano com dignidade igual a qualquer outro regido pelo Ordenamento. É dito, outrossim, no mesmo acórdão que o transexual não deve ter seu egocentrismo satisfeito uma vez que ele ofenderá a boa ordem e também os indivíduos de má-fé. Todavia o transexual também é uma pessoa de boa-fé; ele deseja apenas viver com dignidade. O que muitos operadores do direito olvidam – no seu suposto notório saber – é que o transexual, antes de sê-lo, é uma mulher nascida em um corpo masculino, e vice-versa. Para ele, viver daquele jeito é viver sem dignidade, bem como um ex-atleta tetraplégico que já não se sente à vontade ao não poder mais realizar suas vontades.

Na obra-prima de Franz Kafka, A Metamorfose, Gregor Samsa acorda, um belo dia, metamorfoseado em um gigante e asqueroso inseto, passando a se isolar de todos; na verdade, não precisa ele se isolar. A própria sociedade já o faz. A sociedade não admite ninguém fora dos padrões, fora do aceitável. Sabendo disso, Gregor se restringe ao seu minúsculo quarto até definhar, visto que ninguém mais o aceitaria. O mesmo acontece com Joseph Merrick, inglês que viveu no séc. XIX, conhecido como Homem Elefante por suas deformidades físicas. Este, por sua vez, tentou mostrar à sociedade que a afetividade e o bom-senso não se fazem com aparências ou padrões sociais, e sim com evolução filosófica. É quase uma questão metafísica.

Aos magistrados imutáveis ao clamor social, percebe-se que falta o empirismo lockeano: suas idéias permanecem inatas ao longo do tempo, independendo de experiências vividas com os anos passados.

É preciso, obviamente, atentar para o princípio da dignidade da pessoa humana e salientar que o transexual que tenta estabelecer uma relação afetiva com outrem não está agindo de má-fé, pois este almeja apenas um vínculo com pessoa do sexo oposto – por assim dizer, nos casos em que o próprio gênero da pessoa é mudado nos documentos. É claro que, o cônjuge que se sinta enganado tem o direito de pedir a anulação do casamento caso este seja realizado com o transexual, visto que tal cônjuge tenha objetivos difusos: queira, por exemplo, constituir família com filhos biológicos. Mas não se pode dizer, jamais, que o transexual agiu de má-fé, ao falar que este só agirá de boa-fé caso deixe explicitado a todos que houve uma mudança de sexo. Ninguém que muda qualquer parte do seu corpo – seja homem ou mulher – tem em algum documento dispositivo explícito de um estado de outrora; não há porque fazer tal coisa com o transexual, em face da sua dignidade. Entretanto é necessário manter uma segurança jurídica na sociedade, ao passo que poderia ser possível a anulação de um casamento nessas circunstâncias, onde o cônjuge do transexual se sentisse violado e enganado; mas, seria mais coerente alegar que o problema é de deficiência física, como nos casos de esterilidade, e não de erro sobre a pessoa, pois o transexual, como seu conceito carrega, já não é mais do sexo de antes, e sim para o qual ele mudou. E, por razão do grande avanço da ciência, essa mutabilidade da natureza é possível nos dias de hoje. Em outro acórdão, é salientado que essa mudança – ou a satisfação egocêntrica – vai contra a natureza, sendo, portanto impossível mudá-la. Entretanto, o próprio Direito já foi contra a natureza ao criar as chamadas “Leis Naturais”; ora, lei é o conjunto de institutos criados pelo homem a fim de reger um Ordenamento jurídico. E, se nada natural pode ser criado ou modificado pelo homem, as leis naturais inexistem, portanto, e todo o nosso Ordenamento vai contra a própria natureza , na medida em que o conceito de lei natural aduz à existência de um direito que está estabelecido na própria natureza humana. Se assim o fosse, todas as leis seriam imutáveis, independentemente de avanço ou clamor social.

Outro aspecto importante que tange o Direito de Família é o princípio da Função Social da Família. O conceito desse princípio traz a idéia de que as relações familiares devem ser analisadas a partir do contexto social em que elas se encontram. Sendo assim, se a família constituída não acarretar problemas, não há por que o Direito interferir de forma tão severa, vetando as cirurgias de mudança de sexo.

Portanto, ao analisar os princípios e o contexto social, é possível dizer que não se faz necessária tamanha resistência a tais cirurgias. Elas não tiram a segurança jurídica do nosso Ordenamento; não há má-fé dos transexuais. É necessário, pois, acompanhar as mudanças sociais.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Esqueci

Eu esqueci que tinha um blog. Agora isso aqui tá cheio de moscas, ratos, flamenguistas e afins. Mas bora lá, vou tentar escrever alguma coisa... amanhã, talvez.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Diz que 'tá dura

A música "Feijoada Completa" é um samba/choro bem legal. Chico Buarque e Francis Hime sempre compuseram coisas boas. É uma música bonitinha, interessante, a priori, dá a receita de uma feijoada, falando seus ingredientes e tudo mais. Só que notei uma coisa genial na letra. A música fora lançada em 1978, no álbum com o título "Samambaia". Era época do regime militar, e Chico - como sempre - parafuseava a Ditadura pela lateral...

Eis uma das estrofes da música: Mulher/ Depois de salgar/ Faça um bom refogado que é pra engrossar/ Aproveite a gordura da frigideira/ Pra melhor temperar a couve mineira/ Diz que tá dura/ Pendura a fatura no nosso irmão/ E vamos botar água no feijão.

Pois é, Diz que tá dura, pendura a fatura no nosso irmão. Fatura é uma espécie de rede de pesca. Estranho, não... Pendurar rede de pesca no 'nosso irmão' dá azo à nossa imaginação... Pensar na Ditadura, nas torturas, sei lá. É interessante, só isso. Chico é genial e ponto.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Lua vadia

Certa época do ano, os dias são mais demorados que o normal. Ouvi dizer que, em Salinas, por esse fato incomum, a lua nasce antes do sol se pôr e ambos ficam, de certa forma, alinhados. Engraçado. A lua é vadia, se aproveitando da hora tardia. A lua usurpa o espaço do sol, dividindo com o astro sua beleza. Contempla a todos com um espetáculo ímpar.

A lua se entromete na vida do sol, e este por sua vez fica lá, padecendo segundo por segundo, até tocar na água, até sucumbir, ainda que seja por uma noite. Ele não se preocupa. O sol vai renascer, do outro lado, dando a volta na lua, enganando a sabichona. O céu não consegue esconder a lua; ela vai, passa e se instala, como o posseiro de Teresinha, como abelha rainha. Ninguém esconde a lua, ainda que pequena, pois a noite é dela; seu teatro é na escuridão.

Rir é risível

Quando alguém ri, não ri à toa. Pode ser da tragédia, do cômico, do amor. Um simples riso não diz nada, mas tampouco omite sentimento algum. É o retrato daquilo que existe, sem mais ne por quê. Quando ris, não o faz apenas com a boca, com os lábios. Todos os músculos estremecem, toda lembrança é - indevidamente - rememorada. O riso se faz assim, vadio e dissimulado.

A boca não ri sozinha; seria um insulto deixá-la contrair solitária, sem companheiro, sem afago. Os olhos riem, a alma ri, o corpo gargalha. Todo um espectro é criado no momento exato do riso, da fala, do som. E quem não sabe ri, ri do avesso; ri pro nada, rouba risos. A vida se faz de risos, mas estes não se fazem por ela; fazem-se por si próprios. Existem pelo puro prazer lascivo.

O sorriso é o riso indecente. É o riso sem pudor, sem caráter. É o avesso do avesso.
É, mas também não é. É risível.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Tentando voltar, de novo

Credo, isto 'tá largado às baratas, às traças. Como ninguém lê isso aqui, me sinto à vontade pra falar o que quiser, dizer o que der na telha. É bom ter um amigo imaginário: eu mesmo. Fico pensando - às vezes - que sou tão egoísta que meu alter ego sou eu mesmo, um pouquinho mais insano. Bom, então a reestreia do post vai ser em homenagem ao meu alter ego. Ele quer sair um pouco, quer rir, quer amar... Pena ninguém levá-lo a sério. Ele é uma boa pessoa, mas é incompreendido. Pensam ser maluco, talvez psicopata. É meio. Se fosse completo, eu adoraria que fosse um serial killer.

O alter ego também sofre, também tem emoções. O problema é que ele não pode compartilhar nada com ninguém senão com seu domador, que é quem sofre por ele. Alter ego não tem alma; tem um pouco de respeito pela sua. Ele sente saudade do que nunca existiu, amou quem não mereceu... Vida de alter ego é cruel, meu caro. Sabe qual é a diferença entre ele e o Twitter? Nesse último, pelo menos, tu pensas ter alguém contigo; mas é sozinho, é tudo mentira.

Namore, case, tenha filhos com seu alter ego; ele nunca vai te decepcionar. Acredita nisso, nunca. É seu confidente mais belo.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A maravilha do crime no cinema

Meu juízo me presenteou com dois filmes esses dias. Não assistia a um filme tão instigante e com reviravoltas tão esplendorosas desde Rebecca – A Mulher Inesquecível, de Alfred Hitchcock. Falo de obras maravilhosas com nomes sugestivos: Anatomia De Um Crime (Anatomy of a Murder) e Testemunha de Acusação (Witness for the Prosecution). Não sei qual dos dois merece maior destaque (talvez ambos). Esse infra-gênero de filmes (por assim dizer, filmes de tribunal) já rendeu bons e péssimos filmes. Contudo, aqueles mais antigos merecem maior destaque, a começar pelo segundo citado, da obra de Billy Wilder (Crepúsculo dos Deuses e Quanto Mais Quente Melhor).

Testemunha de Acusação foi baseado em um pequeno conto de Agatha Christie. É primoroso, a começar pelas atuações impecáveis. Charles Laughton nos deixa um personagem marcado na memória ao interpretar o Sr. Wilfrid, advogado recém-saído de um duradouro coma, após um infarto. Este personagem ao mesmo tempo em que domina um sarcasmo inigualável, possui ainda um humor brincalhão. É acompanhado de uma enfermeira linha dura que fará de tudo para que ele não faça o menor esforço. A trama se inicia quando um senhor chamado Leonard Vole é acusado de matar sua amante, uma viúva de certa idade. O Sr. Vole é levado ao escritório desse notório advogado – o qual jurou, por motivos médicos, nunca mais aceitar casos da área criminal, mas tão-somente divórcios ou ações do gênero – a fim de tentar convencê-lo a levar seu caso adiante. Como o Sr. Wilfrid não conseguiu largar os charutos e nem o conhaque, aceitou-o. No meio da trama, aparece uma figura importantíssima, a frígida mulher desse Leonard Vole, com uma interpretação belíssima de Marlene Dietrich. O caso vai à julgamento, e é dentro do tribunal que acontecem as sucessivas reviravoltas. Elas, com certeza, deixam toda e qualquer pessoa boquiaberta. Os argumentos são pouca coisa inferior aos do segundo filme, porém as atuações, combinados com um final histórico, fazem dessa obra de Billy Wilder um filme marcante.

Otto Preminger (Bunny Lake Desapareceu e Exodus) deixou ao mundo do cinema um presente para quem gosta de um thriller dos tribunais. James Stewart (Janela Indiscreta e A Felicidade Não Se Compra) se apresenta ótimo como sempre, no papel de um singelo advogado que decide levar adiante um caso praticamente perdido: um marido matou o estuprador da sua mulher, e todos sabem, pois ele confessou. Parece uma linha simples de raciocínio, até que surge a figura dessa mulher; quase que promíscua e extrovertida, essa loura sensual coloca uma dúvida na cabeça do espectador: houve mesmo estupro? As coisas, que no começam pareciam claras, vão se turvando de forma gradativa no filme, ao passo que, do seu meio até o final, nada mais está claro. Com argumentos de uma criatividade ímpar, o filme se desenrola de forma majestosa perdendo apenas no seu final (ou talvez não).

Eis a diferença entre os dois filmes. No clássico de Billy Wilder, o filme todo é muito bom, e nas suas cenas derradeiras, transforma-se em uma obra-prima. Já na obra de Otto Preminger, o filme inteiro é uma obra sensacional, deixando um final aparentemente estranho e parecendo voltar à estaca zero. Entretanto, ele pode – dependendo da interpretação – esclarecer aquela dúvida inicial. Não se embrulhem na mortalha antes de assisti-los.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Que maravilha!

A estréia nacional do filme, adaptado da obra literária de Chico Buarque, Budapeste, acontece hoje. Bom, "estréia nacional" é muito amplo, visto que, obviamente, não estreou aqui no fim do mundo, onde nem a gripe suína se arrisca em passar uma temporada. Já era de se esperar, mas a minha expectativa era enorme para o dia de hoje. Infelizmente vou ter de aguardar a boa vontade do Moviecom em rodar o filme nas suas putrefatas salas de exibição. Aquele cinema do novíssimo Shopping Pátio Belém é o 'pão e circo' do Pará. A única diferença é que quem deseja assistir a algum filme, deve desembolsar um preço relativamente caro. C'est la vie.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O Ministro e a maconha

O polêmico Carlos Minc aprontou mais uma: participou da marcha da maconha. Só não entendo por que alguns parlamentares ficaram tão irritados com a simples ida do ministro à pacata marcha. Ele foi, inclusive, chamado para se explicar diante dos excelentíssimos do porquê participou dessa manifestação. Um parlamentar cujo o qual o nome não infectou minha memória, chegou a dizer que que o ministro fez apologia à maconha. É risível uma declaração desse porte. Ora, meu senhor, vá estudar (ou melhor, volte a estudar um pouco). Fazer apologia não é participar simplesmente da caminhada pela legalização da maconha. Pra fazer apologia, tem que incitar o uso, instigar, provocar, usar de meios que facilitem a chegada do entorpecente a qualquer pessoa. Participar de uma caminhada (ou marcha) que vise a legalização do que quer que seja, é uma tentativa inocente de almejar tal objetivo.

Os parlamentares deveriam se olhar no espelho, deveriam olhar para dentro do Congresso e ver que há problemas muito maiores do que um Ministro tomando partido pela predileção de (uma pequena) parte do seu povo. Pelo menos são poucos os que não se acanham em entrar nessa luta.
Mas reduzir o tráfico e o crime organizado não é bom negócio. Reduzir a violência e desarmar bandido não é bom negócio. Enquanto isso, fumar maconha é crime e quem compra arma bandido e faz aumentar a violência. Se quiser, lute para tentar, pelo menos, reduzir o financiamento do tráfico. Se bem que, se legalizassem a cannabis, alguma outra coisa seria inventada pelo tráfio. Tem muita gente por trás dele que a gente nem imagina...

Sonegar é crime? Ninguém me avisou

Sonegar é crime? Parece que a modelo Isabeli Fontana não se preocupou em sonegar R$ 6,5 milhões de Imposto de Renda. É o Brasil. Muito bem, dona modelo (sem ironia). Afinal, se eu ganhasse uma dinheirama dessas, não iria querer dividir com ninguém, assim de mão beijada. Hoje ainda não pago imposto de renda; mas vejo milhões de brasileiros fazendo suas contas todo ano a fim de contribuir com a União. Isso que é cidadania. Alguns, dependendo da renda, têm que doar vinte e sete e meio por cento dos seus ganhos à União. É quase um terço do ganho. É quase um roubo.

Muito bem, dona modelo. Você não quis contribuir com a construções de castelos, com viagens parlamentares, não quis sustentar a vida de um bando de malandros que se apóiam no dinheiro do brasileiro. A dona da Daslu foi outra que entrou pelo cano ao sonegar milhões em impostos. O governo fica com raiva ao ver que esse dinheiro todo escapa Brasil afora. A cólera sobe à cabeça por ter menos dinheiro para viajar com toda a família, seu deputado? Desse modo, me pergunto todo dia ao acordar: sonegar é, de fato, crime? Claro. Tudo que vai contra os interesses da União é crime. Tem gente que sustenta o tráfico, comprando Dvd's piratas e entorpecentes ilícitos; tem gente que é obrigada a contribuir com outro tráfico. Afinal, qual é o tráfico e qual é o crime organizado? Eu já nem sei. Quem é bandido e quem é moçinho? É o do castelo ou o da favela? E a favela, não é o Congresso? No Congresso tem dinheiro, na favela tem droga. Mas onde tem dinheiro, tem droga. Que droga de Congresso nós temos.

Usar dinheiro público indevidamente é o quê? Se todos tivessem a audácia dessas pessoas que sonegam milhões, seria uma pândega só. Afinal, elas estão apenas defendendo seu patrimônio de um eventual roubo. O coitado paga impostos para acesso à saúde, educação e afins, mas tem de pagar plano de saúde e colégio ou faculdade particulares para não definhar em uma fila quando mais precisar ou ter uma instrução que preste. E a segurança pública? Essa sim é maravilhosa. No final das contas, o trabalhador doa ingenuamente impostos ao governo. Porque pagar à União para ter acesso à direitos e garantias individuais e, posteriormente, ter de pagar novamente a um terceiro particular para ter um real acesso aos mesmo, é sacanagem, seu Presidente.

Então a pergunta paira sobre o céu cinzento: sonegar impostos, nesse país deprimente, é mesmo crime?

terça-feira, 19 de maio de 2009

Eles voltaram

Para quem ainda não acreditava, eis a prova.

http://www.youtube.com/watch?v=VIGyAgn3zK0&feature=related

sexta-feira, 15 de maio de 2009

JFK

JohnFitzgerald Kennedy. Este nome seria uma promessa de um Estados Unidos melhor, caso não o matassem. Depois de assistir ao filme JFK (1991) de Oliver Stone, pude, talvez, notar no que consiste os Estados Unidos da América. Assassinato propriamente dito? Conspiração? Por que uma pessoa sozinha mataria um presidente? Existe uma palavra-chave para toda a questão: guerra. A guerra move os Estados Unidos, gera bilhões de dolares por ano ao país. Então, se um presidente chega com o discurso de acabar com a guerra, o que aconteceria com ele?

Dizem que a conspiração envolve o próprio governo, membros do exército, o FBI e muitas outras pessoas do mais alto escalão do Tio Sam. Segundo as autoridades, o real assassino foi Lee Haravey Oswald, um assassino solitário - brilhantemente interpretado por Gary Oldman no filme. Kennedy Morreu 12:30 (horário de Dallas). Entretanto, segundo um ex-membro do exército, quando este estava na Austrália, o jornal indicando que o suspeito Lee Harvey Oswald havia sido detido já circulara no país, apenas 10 minutos depois do assassínio. Engraçado, não? Esses e outros fatos controversos indicam uma possível conspiração, como por exemplo, o fato do cérebro do Presidente ter sumido durante a autópsia. Um dos tiros atingiu em cheio a cabeça do Kennedy, dilacerando-a - e disso se fez uma das cenas mais chocantes de se ver: a primeira-dama, em desespero, pula para parte de trás do carro a fim de catar os pedaços do cérebro do marido; o cérebro seria de suma importância na autópsia para saber a origem da bala, em que ângulo ela entrara em Kennedy.


Essa tragédia tem como contexto a Guerra do Vietnã, acredito que uma das piores da história. Muitos dos filmes de Oliver Stone têm como contexto - direto ou indireto - a tal guerra, já que ele servira nela (o próprio JFK, Platoon e Nascido em 4 de Julho). Para quem não assistiu, é um filme surpreendente, talvez um dos melhores dos anos 90, de um cunho político exorbitante e de tirar o fôlego, com uma cena de julgamento quase que interminável, parecendo que vai prender a atenção do espectador para sempre. Conta ainda com nomes como Kevin Costner, Tommy Lee Jones, Joe Pesci, Gary Oldman, Kevin Bacon, Donald Sutherland e outros. É um filme com mais de 3 horas, mas essas horas serão leves; será como ouvir uma bela canção.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Zii e zie

Para surpresa geral, Caetano Veloso virá de novo fazer show em Belém, show este referente ao seu novo CD Zii e Zie. Ele vem antes mesmo de se apresentar em São Paulo. Que prestígio, hein. O show de Maio de 2007 foi muito bom, apesar dos habituais pitis do astro. Outro probleminha foi a Assembléia Paraense ter reservado o fundo do salão às pessoas que pagaram 50 ou 100 reais no ingresso. Esse show foi marcado pelas músicas do então CD novo e de muitos clássicos, inclusive London, London. Espero que dessa vez, possamos ser contemplados com O quereres ou Alegria, Alegria, e não com aquelas coisas de 'às vezes no silêncio da noite...'

Caetano poderia contemplar o público de Belém rememorando a tropicália, suas parcerias imortais e, quem sabe, um pouco de samba. Mas, pelo que vi dois anos atrás, Caetano deixou os arranjos memoráveis de lado e partiu para o lado da guitarra, do contrabaixo e da bateria, com um eventual violãozinho em uma música ou outra. Não sou fã de Caetano, mas provavelmente estarei lá, contemplando a boa música que ainda sobrevive emergindo de quando em quando na nossa atmosfera. Dia 23, Caetano Veloso com seu novo show Zii e zie.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Welles e a Mídia

Muitas são as críticas contra a mídia - não só a brasileira como do mundo todo. Essa 'mídia de massa', como chamam por aí. O fato é que ninguém conseguiu criticá-la tão bem como Orson Welles. Seu filme imortal Cidadão Kane é a prova disto. Precocemente, ele cria um roteiro baseado - segundo a boca miúda - na vida de um magnata americano do jornal, mesclado com a sua própria história. É a ascensão de alguém que não tinha lá muitos recursos através da mídia. E, ainda, é uma ascensão pelos jornais que publicam manchete às vezes inúteis e sensacionalistas.

(Toda semelhança com o Brasil é mera coincidência)


No último filme dirigido por Orson Welles - Verdades e Mentiras (F for Fake) - Welles cria um falso documentário, onde diz, até exata 1 hora de filme, verdades, e tudo dito posteriormente, é mentira. O problema é que, durante o filme, não se sabe o que é verdade ou mentira. Welles sempre teve dom para isso. Ele demonstra claramente ao falar, no filme, que quando conseguiu um emprego na rádio, anunciou que extraterrestres teriam invadido a Terra; que a Casa Branca já havia começado certas negociações com os visitantes, e por aí vai. O engraçado é que milhares de pessoas que ouviram tal notícia no rádio deveras acreditaram em tal. Ao invés de ir para a cadeia, foi para Hollywood.
Orson Welles conseguiu nos demonstar, de forma majestosa, o quanto a mídia nos influencia, seja no jornal impresso, seja na rádio, seja na televisão. Mostra-nos como a sociedade acredita em qualquer absurdo que saia nesses veículos. A vulnerabilidade do homem se dá pelos poucos que detém o poder de manipulação.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O 'outrora belo rosto'

Terminei ontem a leitura de Leite Derramado, livro lançado em Março, da autoria de Chico Buarque. Livro com uma narrativa interessante, em primeira pessoa. O livro é a narrativa de um velho moribundo contando suas desventuras de mais de cem anos. Fala de sua mulher, da sua família - os Assumpção - numa leitura genealógica desta, que vem desde a Corte Portuguesa até os dias atuais. A narrativa é bam parecida com dos outros trêrs romances, se aproximando um mais de uma mistura de Estorvo e Budapeste. Continua com a separação de falas dos personagens apenas por vírgulas, acho que a única coisa irritante dos seus livros.

Pegando o enredo, nota-se uma inspiração no 'épico contemporâneo' Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez; visto que há um desenrolar de uma estirpe séculos a fio. A Diferença é que aqui o narrador já ultrapassou a história dos antepassados e este reconta a mesma. No livro do colombiano, a história vai acompanhando os descendentes. Outro aspecto interessante é uma leve correlação entre Matilde - a mulher do narrador que, apesar de ser citada várias vezes no livro, é como se não aparecesse - e Rebecca, livro de título homônimo de Daphne Du Maurier, posteriormente adaptado ao cinema por Alfred Hitchcock. A correlação se dá mais com o filme, visto que, apesar do mesmo ser entitulado Rebecca, a mesma não aparece em momento algum do filme; mas o seu nome é de uma força que a figura se torna desnecessária. O mesmo acontece com Matilde. Caso o livro venha a se tornar filme, o mesmo poderia acontecer: Matilde seria onisciente, ao ponto de ganhar seu espaço no roteiro apenas com seu nome e sua memória.

O modo como Chico explora o sexo se assemelha um pouco à Budapeste, só que um pouco mais... forte. É a literatura buarqueana tomando cada vez mais força. A cada livro, o malandro se aperferiçoa mais. Espero que um dia a perfeição o acolha na forma de prosa.