terça-feira, 5 de agosto de 2008

Santiago

Ao término da leitura de "Crônica de uma morte anunciada", pergunto o que Santiago Nasar Representa. Seria a morte merecida de um cínico ou o infortúnio destino aceito de um reles ser humano? A resposta paira no universo de Márquez e viola a fronteira da razão. A união e a ignorância - esta última, no mais puro sentido da palavra - de uma família foram chocadas pela desonra a qual só se perde uma vez.

Ângela Vicário. Eis quem causa morte e desonra. Vicário. Vigário. Sendo vicário o verbo usado no lugar daquele já usado, para não haver redundância, Ângela já havia sido usada, sua pureza havia se desintegrado - possivelmente - nas mãos de Santiago Nasar. Pedro e Pablo Vicário foram os substitutos; da honra, por ora. O sangue fétido que emana do botão da corola e rola sobre a vulva, foi compensado pelos golpes das facas gêmeas desferidos simultaneamente pelos justiceirtos. A imagem de Santiago Nasar tombando no chão da cozinha é a imagem de um herói que carrega o seu destino sem hesitar, sem pestanejar. Mesmo nunca havendo morte tão anunciada, Santiago sequer fugiu ou se armou até os dentes para se defender.

Por mais que não tenha feito o que disse a moça, carregou essa triste e doce cruz. Carregou uma vida feita por uma frase, uma fantasia. Aquela faca atravessando sua mão foi a vingança de ter atravessado a honra de uma mulher, quiçá de uma família inteira.

Santiago Nasar representa um homem digno de vingança. Ou, homem a ser vingado. Ou a ser coroado rei da desonra. Não teve álibi; se o tivesse, seria sua palavra, sua história. Santigo Nasar aceitou a morte como uma mulher aceita entregar-se a um primeiro assassino.

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