quinta-feira, 12 de março de 2009

Pest

Li Budapeste - obra de Chico Buarque - duas vezes. Foram necessárias essas duas vezes para compreender a real essência do livro. É sensacional. Termina o livro e tu pensas o que realmente a história é; mas depois pensas que aquilo é quase incabível. Porém, é tudo verdade. É como se colocasses um espelho na frente de outro espelho: eis o infinito de imagens semelhantes. Surge, aí, um imbróglio de imagens, idéias e fantasias. A essência do livro é tão densa que chega ao ponto em que o leitor pensa ser o José Costa - ou o autor do livro. E, ainda, o autor da obra, majestosamente, inclui-se no livro, na pele do "Sr..." (tudo indica que essa personagem seja o próprio Chico).

Até boa parte do livro, é apenas um ghost writter que transita do Rio de Janeiro à Budapeste, sem muita convicção. Contudo, a história toma tal rumo que deixa o leitor atordoado com o tamanho da sua complexidade e beleza. Nada era real; o livro não é real. Nada aquilo escrito existe. O livro nas mãos do leitor é o mesmo livro nas mãos do personagem. A leitura é a mesma.

O Budapeste é o livro do José Costa (ou Zsosé Kósta), é um livro recheado de fantasias com narrativa que, a princípio, é verdadeira. O Budapeste é de quem o lê, é sem dono. É como se cento e setenta páginas fossem do leitor, e as restantes do real autor; é sentir-se um autor. É ter uma obra escrita por um ghost writter. É uma sensação única lê-lo.

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