terça-feira, 24 de março de 2009

Minha vida, minha morte



Não lembro se já escrevi sobre isso aqui e estou com preguiça de fuçar no arquivo, mas é interessante a discussão sobre ter uma morte digna. É claro que se o homem soubesse o dia exato e a hora em que fosse morrer, desde o seu nascimento, sua vida não seria dotada de valor moral. Pois bem, se uma pessoa sã, que perde o que mais lhe dava razão para viver, não se sente mais apta ao mundo, por que prendê-la a ele? Por que submetê-la a tal martírio?

Em meio às várias discussões acadêmicas e do próprio cotidiano, tomemos como exemplo dois filmes; um de grande conhecimento geral e outro, nem tanto (porém deveria sê-lo bem mais que o primeiro). No filme Menina de Ouro (Million Dollar Baby - 2004) , a protagonista, que sonhara em ser uma grande lutadora, reconhecida mundialmente, quase chega lá. Uma lesão na medula espinhal fez com que ela ficasse paralisada do pescoço para baixo, imóvel, inerte. Agora, que dignidade essa pessoa tem, se o mecanismo para seu sonho o fora roubado (seus músculos, seu corpo)? Se é de sua vontade, que seja feito o suicídio assistido, visto que, no filme, a personagem tenta o suicídio ao morder a própria língua, já que era um dos únicos movimentos que lhe restara.


O filme Mar Adentro (Mar Adientro - 2005) - por sinal, superior ao primeiro - narra a história de Ramón (Javier Bardem), que já inicia tetraplégico e, durante toda a trama, luta contra a justiça para poder ter uma morte digna, já que estava há anos naquele estado. Luta pois sequer consegue cometer suicídio. É um final previsível, triste, mas que, em hipótese alguma, dispensa sua apreciação.
De acordo com a Tanato-ética, há uma diferença entre eutanásia e suicídio assistido. Na primeira - eutanásia ( eu - boa; thanatos - morte), desliga-se a fonte que sustenta um enfermo de anos, em estado vegetativo. Não há uma autorização expressa para essa morte. É o que aconteceu no caso da italiana mostrado na mídia. Suicídio assistido é o que acontece na maioria dos filmes; é uma morte com a autorização do indivíduo.
Todos deveriam se preocupar com a morte. Todos. Às vezes, sofrer numa cama, imóvel, pode ser pior que a morte. Ferir a dignidade é ferir a vida do ser humano.

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