terça-feira, 22 de setembro de 2009

Tentando voltar, de novo

Credo, isto 'tá largado às baratas, às traças. Como ninguém lê isso aqui, me sinto à vontade pra falar o que quiser, dizer o que der na telha. É bom ter um amigo imaginário: eu mesmo. Fico pensando - às vezes - que sou tão egoísta que meu alter ego sou eu mesmo, um pouquinho mais insano. Bom, então a reestreia do post vai ser em homenagem ao meu alter ego. Ele quer sair um pouco, quer rir, quer amar... Pena ninguém levá-lo a sério. Ele é uma boa pessoa, mas é incompreendido. Pensam ser maluco, talvez psicopata. É meio. Se fosse completo, eu adoraria que fosse um serial killer.

O alter ego também sofre, também tem emoções. O problema é que ele não pode compartilhar nada com ninguém senão com seu domador, que é quem sofre por ele. Alter ego não tem alma; tem um pouco de respeito pela sua. Ele sente saudade do que nunca existiu, amou quem não mereceu... Vida de alter ego é cruel, meu caro. Sabe qual é a diferença entre ele e o Twitter? Nesse último, pelo menos, tu pensas ter alguém contigo; mas é sozinho, é tudo mentira.

Namore, case, tenha filhos com seu alter ego; ele nunca vai te decepcionar. Acredita nisso, nunca. É seu confidente mais belo.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A maravilha do crime no cinema

Meu juízo me presenteou com dois filmes esses dias. Não assistia a um filme tão instigante e com reviravoltas tão esplendorosas desde Rebecca – A Mulher Inesquecível, de Alfred Hitchcock. Falo de obras maravilhosas com nomes sugestivos: Anatomia De Um Crime (Anatomy of a Murder) e Testemunha de Acusação (Witness for the Prosecution). Não sei qual dos dois merece maior destaque (talvez ambos). Esse infra-gênero de filmes (por assim dizer, filmes de tribunal) já rendeu bons e péssimos filmes. Contudo, aqueles mais antigos merecem maior destaque, a começar pelo segundo citado, da obra de Billy Wilder (Crepúsculo dos Deuses e Quanto Mais Quente Melhor).

Testemunha de Acusação foi baseado em um pequeno conto de Agatha Christie. É primoroso, a começar pelas atuações impecáveis. Charles Laughton nos deixa um personagem marcado na memória ao interpretar o Sr. Wilfrid, advogado recém-saído de um duradouro coma, após um infarto. Este personagem ao mesmo tempo em que domina um sarcasmo inigualável, possui ainda um humor brincalhão. É acompanhado de uma enfermeira linha dura que fará de tudo para que ele não faça o menor esforço. A trama se inicia quando um senhor chamado Leonard Vole é acusado de matar sua amante, uma viúva de certa idade. O Sr. Vole é levado ao escritório desse notório advogado – o qual jurou, por motivos médicos, nunca mais aceitar casos da área criminal, mas tão-somente divórcios ou ações do gênero – a fim de tentar convencê-lo a levar seu caso adiante. Como o Sr. Wilfrid não conseguiu largar os charutos e nem o conhaque, aceitou-o. No meio da trama, aparece uma figura importantíssima, a frígida mulher desse Leonard Vole, com uma interpretação belíssima de Marlene Dietrich. O caso vai à julgamento, e é dentro do tribunal que acontecem as sucessivas reviravoltas. Elas, com certeza, deixam toda e qualquer pessoa boquiaberta. Os argumentos são pouca coisa inferior aos do segundo filme, porém as atuações, combinados com um final histórico, fazem dessa obra de Billy Wilder um filme marcante.

Otto Preminger (Bunny Lake Desapareceu e Exodus) deixou ao mundo do cinema um presente para quem gosta de um thriller dos tribunais. James Stewart (Janela Indiscreta e A Felicidade Não Se Compra) se apresenta ótimo como sempre, no papel de um singelo advogado que decide levar adiante um caso praticamente perdido: um marido matou o estuprador da sua mulher, e todos sabem, pois ele confessou. Parece uma linha simples de raciocínio, até que surge a figura dessa mulher; quase que promíscua e extrovertida, essa loura sensual coloca uma dúvida na cabeça do espectador: houve mesmo estupro? As coisas, que no começam pareciam claras, vão se turvando de forma gradativa no filme, ao passo que, do seu meio até o final, nada mais está claro. Com argumentos de uma criatividade ímpar, o filme se desenrola de forma majestosa perdendo apenas no seu final (ou talvez não).

Eis a diferença entre os dois filmes. No clássico de Billy Wilder, o filme todo é muito bom, e nas suas cenas derradeiras, transforma-se em uma obra-prima. Já na obra de Otto Preminger, o filme inteiro é uma obra sensacional, deixando um final aparentemente estranho e parecendo voltar à estaca zero. Entretanto, ele pode – dependendo da interpretação – esclarecer aquela dúvida inicial. Não se embrulhem na mortalha antes de assisti-los.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Que maravilha!

A estréia nacional do filme, adaptado da obra literária de Chico Buarque, Budapeste, acontece hoje. Bom, "estréia nacional" é muito amplo, visto que, obviamente, não estreou aqui no fim do mundo, onde nem a gripe suína se arrisca em passar uma temporada. Já era de se esperar, mas a minha expectativa era enorme para o dia de hoje. Infelizmente vou ter de aguardar a boa vontade do Moviecom em rodar o filme nas suas putrefatas salas de exibição. Aquele cinema do novíssimo Shopping Pátio Belém é o 'pão e circo' do Pará. A única diferença é que quem deseja assistir a algum filme, deve desembolsar um preço relativamente caro. C'est la vie.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O Ministro e a maconha

O polêmico Carlos Minc aprontou mais uma: participou da marcha da maconha. Só não entendo por que alguns parlamentares ficaram tão irritados com a simples ida do ministro à pacata marcha. Ele foi, inclusive, chamado para se explicar diante dos excelentíssimos do porquê participou dessa manifestação. Um parlamentar cujo o qual o nome não infectou minha memória, chegou a dizer que que o ministro fez apologia à maconha. É risível uma declaração desse porte. Ora, meu senhor, vá estudar (ou melhor, volte a estudar um pouco). Fazer apologia não é participar simplesmente da caminhada pela legalização da maconha. Pra fazer apologia, tem que incitar o uso, instigar, provocar, usar de meios que facilitem a chegada do entorpecente a qualquer pessoa. Participar de uma caminhada (ou marcha) que vise a legalização do que quer que seja, é uma tentativa inocente de almejar tal objetivo.

Os parlamentares deveriam se olhar no espelho, deveriam olhar para dentro do Congresso e ver que há problemas muito maiores do que um Ministro tomando partido pela predileção de (uma pequena) parte do seu povo. Pelo menos são poucos os que não se acanham em entrar nessa luta.
Mas reduzir o tráfico e o crime organizado não é bom negócio. Reduzir a violência e desarmar bandido não é bom negócio. Enquanto isso, fumar maconha é crime e quem compra arma bandido e faz aumentar a violência. Se quiser, lute para tentar, pelo menos, reduzir o financiamento do tráfico. Se bem que, se legalizassem a cannabis, alguma outra coisa seria inventada pelo tráfio. Tem muita gente por trás dele que a gente nem imagina...

Sonegar é crime? Ninguém me avisou

Sonegar é crime? Parece que a modelo Isabeli Fontana não se preocupou em sonegar R$ 6,5 milhões de Imposto de Renda. É o Brasil. Muito bem, dona modelo (sem ironia). Afinal, se eu ganhasse uma dinheirama dessas, não iria querer dividir com ninguém, assim de mão beijada. Hoje ainda não pago imposto de renda; mas vejo milhões de brasileiros fazendo suas contas todo ano a fim de contribuir com a União. Isso que é cidadania. Alguns, dependendo da renda, têm que doar vinte e sete e meio por cento dos seus ganhos à União. É quase um terço do ganho. É quase um roubo.

Muito bem, dona modelo. Você não quis contribuir com a construções de castelos, com viagens parlamentares, não quis sustentar a vida de um bando de malandros que se apóiam no dinheiro do brasileiro. A dona da Daslu foi outra que entrou pelo cano ao sonegar milhões em impostos. O governo fica com raiva ao ver que esse dinheiro todo escapa Brasil afora. A cólera sobe à cabeça por ter menos dinheiro para viajar com toda a família, seu deputado? Desse modo, me pergunto todo dia ao acordar: sonegar é, de fato, crime? Claro. Tudo que vai contra os interesses da União é crime. Tem gente que sustenta o tráfico, comprando Dvd's piratas e entorpecentes ilícitos; tem gente que é obrigada a contribuir com outro tráfico. Afinal, qual é o tráfico e qual é o crime organizado? Eu já nem sei. Quem é bandido e quem é moçinho? É o do castelo ou o da favela? E a favela, não é o Congresso? No Congresso tem dinheiro, na favela tem droga. Mas onde tem dinheiro, tem droga. Que droga de Congresso nós temos.

Usar dinheiro público indevidamente é o quê? Se todos tivessem a audácia dessas pessoas que sonegam milhões, seria uma pândega só. Afinal, elas estão apenas defendendo seu patrimônio de um eventual roubo. O coitado paga impostos para acesso à saúde, educação e afins, mas tem de pagar plano de saúde e colégio ou faculdade particulares para não definhar em uma fila quando mais precisar ou ter uma instrução que preste. E a segurança pública? Essa sim é maravilhosa. No final das contas, o trabalhador doa ingenuamente impostos ao governo. Porque pagar à União para ter acesso à direitos e garantias individuais e, posteriormente, ter de pagar novamente a um terceiro particular para ter um real acesso aos mesmo, é sacanagem, seu Presidente.

Então a pergunta paira sobre o céu cinzento: sonegar impostos, nesse país deprimente, é mesmo crime?

terça-feira, 19 de maio de 2009

Eles voltaram

Para quem ainda não acreditava, eis a prova.

http://www.youtube.com/watch?v=VIGyAgn3zK0&feature=related

sexta-feira, 15 de maio de 2009

JFK

JohnFitzgerald Kennedy. Este nome seria uma promessa de um Estados Unidos melhor, caso não o matassem. Depois de assistir ao filme JFK (1991) de Oliver Stone, pude, talvez, notar no que consiste os Estados Unidos da América. Assassinato propriamente dito? Conspiração? Por que uma pessoa sozinha mataria um presidente? Existe uma palavra-chave para toda a questão: guerra. A guerra move os Estados Unidos, gera bilhões de dolares por ano ao país. Então, se um presidente chega com o discurso de acabar com a guerra, o que aconteceria com ele?

Dizem que a conspiração envolve o próprio governo, membros do exército, o FBI e muitas outras pessoas do mais alto escalão do Tio Sam. Segundo as autoridades, o real assassino foi Lee Haravey Oswald, um assassino solitário - brilhantemente interpretado por Gary Oldman no filme. Kennedy Morreu 12:30 (horário de Dallas). Entretanto, segundo um ex-membro do exército, quando este estava na Austrália, o jornal indicando que o suspeito Lee Harvey Oswald havia sido detido já circulara no país, apenas 10 minutos depois do assassínio. Engraçado, não? Esses e outros fatos controversos indicam uma possível conspiração, como por exemplo, o fato do cérebro do Presidente ter sumido durante a autópsia. Um dos tiros atingiu em cheio a cabeça do Kennedy, dilacerando-a - e disso se fez uma das cenas mais chocantes de se ver: a primeira-dama, em desespero, pula para parte de trás do carro a fim de catar os pedaços do cérebro do marido; o cérebro seria de suma importância na autópsia para saber a origem da bala, em que ângulo ela entrara em Kennedy.


Essa tragédia tem como contexto a Guerra do Vietnã, acredito que uma das piores da história. Muitos dos filmes de Oliver Stone têm como contexto - direto ou indireto - a tal guerra, já que ele servira nela (o próprio JFK, Platoon e Nascido em 4 de Julho). Para quem não assistiu, é um filme surpreendente, talvez um dos melhores dos anos 90, de um cunho político exorbitante e de tirar o fôlego, com uma cena de julgamento quase que interminável, parecendo que vai prender a atenção do espectador para sempre. Conta ainda com nomes como Kevin Costner, Tommy Lee Jones, Joe Pesci, Gary Oldman, Kevin Bacon, Donald Sutherland e outros. É um filme com mais de 3 horas, mas essas horas serão leves; será como ouvir uma bela canção.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Zii e zie

Para surpresa geral, Caetano Veloso virá de novo fazer show em Belém, show este referente ao seu novo CD Zii e Zie. Ele vem antes mesmo de se apresentar em São Paulo. Que prestígio, hein. O show de Maio de 2007 foi muito bom, apesar dos habituais pitis do astro. Outro probleminha foi a Assembléia Paraense ter reservado o fundo do salão às pessoas que pagaram 50 ou 100 reais no ingresso. Esse show foi marcado pelas músicas do então CD novo e de muitos clássicos, inclusive London, London. Espero que dessa vez, possamos ser contemplados com O quereres ou Alegria, Alegria, e não com aquelas coisas de 'às vezes no silêncio da noite...'

Caetano poderia contemplar o público de Belém rememorando a tropicália, suas parcerias imortais e, quem sabe, um pouco de samba. Mas, pelo que vi dois anos atrás, Caetano deixou os arranjos memoráveis de lado e partiu para o lado da guitarra, do contrabaixo e da bateria, com um eventual violãozinho em uma música ou outra. Não sou fã de Caetano, mas provavelmente estarei lá, contemplando a boa música que ainda sobrevive emergindo de quando em quando na nossa atmosfera. Dia 23, Caetano Veloso com seu novo show Zii e zie.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Welles e a Mídia

Muitas são as críticas contra a mídia - não só a brasileira como do mundo todo. Essa 'mídia de massa', como chamam por aí. O fato é que ninguém conseguiu criticá-la tão bem como Orson Welles. Seu filme imortal Cidadão Kane é a prova disto. Precocemente, ele cria um roteiro baseado - segundo a boca miúda - na vida de um magnata americano do jornal, mesclado com a sua própria história. É a ascensão de alguém que não tinha lá muitos recursos através da mídia. E, ainda, é uma ascensão pelos jornais que publicam manchete às vezes inúteis e sensacionalistas.

(Toda semelhança com o Brasil é mera coincidência)


No último filme dirigido por Orson Welles - Verdades e Mentiras (F for Fake) - Welles cria um falso documentário, onde diz, até exata 1 hora de filme, verdades, e tudo dito posteriormente, é mentira. O problema é que, durante o filme, não se sabe o que é verdade ou mentira. Welles sempre teve dom para isso. Ele demonstra claramente ao falar, no filme, que quando conseguiu um emprego na rádio, anunciou que extraterrestres teriam invadido a Terra; que a Casa Branca já havia começado certas negociações com os visitantes, e por aí vai. O engraçado é que milhares de pessoas que ouviram tal notícia no rádio deveras acreditaram em tal. Ao invés de ir para a cadeia, foi para Hollywood.
Orson Welles conseguiu nos demonstar, de forma majestosa, o quanto a mídia nos influencia, seja no jornal impresso, seja na rádio, seja na televisão. Mostra-nos como a sociedade acredita em qualquer absurdo que saia nesses veículos. A vulnerabilidade do homem se dá pelos poucos que detém o poder de manipulação.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O 'outrora belo rosto'

Terminei ontem a leitura de Leite Derramado, livro lançado em Março, da autoria de Chico Buarque. Livro com uma narrativa interessante, em primeira pessoa. O livro é a narrativa de um velho moribundo contando suas desventuras de mais de cem anos. Fala de sua mulher, da sua família - os Assumpção - numa leitura genealógica desta, que vem desde a Corte Portuguesa até os dias atuais. A narrativa é bam parecida com dos outros trêrs romances, se aproximando um mais de uma mistura de Estorvo e Budapeste. Continua com a separação de falas dos personagens apenas por vírgulas, acho que a única coisa irritante dos seus livros.

Pegando o enredo, nota-se uma inspiração no 'épico contemporâneo' Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez; visto que há um desenrolar de uma estirpe séculos a fio. A Diferença é que aqui o narrador já ultrapassou a história dos antepassados e este reconta a mesma. No livro do colombiano, a história vai acompanhando os descendentes. Outro aspecto interessante é uma leve correlação entre Matilde - a mulher do narrador que, apesar de ser citada várias vezes no livro, é como se não aparecesse - e Rebecca, livro de título homônimo de Daphne Du Maurier, posteriormente adaptado ao cinema por Alfred Hitchcock. A correlação se dá mais com o filme, visto que, apesar do mesmo ser entitulado Rebecca, a mesma não aparece em momento algum do filme; mas o seu nome é de uma força que a figura se torna desnecessária. O mesmo acontece com Matilde. Caso o livro venha a se tornar filme, o mesmo poderia acontecer: Matilde seria onisciente, ao ponto de ganhar seu espaço no roteiro apenas com seu nome e sua memória.

O modo como Chico explora o sexo se assemelha um pouco à Budapeste, só que um pouco mais... forte. É a literatura buarqueana tomando cada vez mais força. A cada livro, o malandro se aperferiçoa mais. Espero que um dia a perfeição o acolha na forma de prosa.

Grilagem Divina

Vendo um pedaço no céu. Na minha mão é mais barato. Aqui você paga dez por cento do seu salário até o resto da sua vida. É uma bagatela. Seu pedaço no céu estará garantido com o Pastor Adeílson.
Se deus realmente existir, primeiramente ele deve estar muito zangado comigo por não acreditar tanto assim nele (o mundo não me deixa fazê-lo), e deve ficar muito triste por venderem suas terras dessa maneira, assim tão imprudentemente. Já pensou, deus chega em casa após um dia duro de trabalho nos Estados Unidos e de repente vê integrantes do MSC (Movimento dos Sem-Céu) invadindo seus pastos, só porque um grileiro divino lhes vendera o terreno ainda em vida? Deve ser triste. Tomo dores por deus ao fazerem tamanha sacanagem com ele. Se eu fosse o próprio, entraria com uma ação de evicção, alegaria grilagem e o escambau; sairia distribuindo raios em todos os invasores, para que eles nunca mais voltassem.

Pois bem, falando dessas pessoas que compram um lugar no céu, devo demonstrar toda uma repúdia. Claro. Tudo bem que muitas pessoas não têm instrução suficiente e se deixam dominar pela religião. Mas comprar pedaço do céu não é falta de instrução, é burrice nata; e essas mesmas pessoas ridicularizam e maldizem os coitados dos mulçumanos que se matam por um bando de virgens no paraíso. Agora, diz-me, qual a diferença? Nenhuma. As crenças devem ser respeitadas, mas nunca sobrepostas. Então nunca diga que o mulçumano suicida sofreu lavagem cerebral para se matar. Não. Ele realmente acredita que haverá dezenas de virgens esperando por ele no paraíso. O coitado do trabalhador aqui no Brasil também acredita que terá adquirido seu pedacinho de terra em vida. Se ele reencarnar, coitado, terá desperdiçado uma dinheirama.

Na verdade, não seria bem desperdiçado, mas dado com muito suor a um pastor qualquer, que se aproveita dessa situação e engana o assalariado. Pior é que, misteriosamente, o pastor sempre ganha um dinheirinho com essa empresa chamada Igreja Universal & Associadas S/A. Mas afinal, esse dinheiro não era pra comprar o tal do latifúndio divino. Parem de enganar os crentes, seus irresponsáveis. Se eles chegarem no céu e derem de cara com o terreno cercado e habitado por um velho barbudo criando ovelhas, vocês terão de vender seus carros e sua mansão para pagar um advogado (do diabo).

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Muito Além da Gripe

Que maravilha saber o poder da mídia. Nesse mês que passou pudemos experimentar ainda mais sua força; tirar vantagem até na doença... assim não dá. Desde que casos e mais casos foram confirmados no México e, posteriormente, em uma série de outros países, não se fala mais em outra coisa. É somente a gripe suína - ou H1N1. Claro que a mídia - especialmente a brasileira - não deixaria de se aproveitar da situação. É isso que estamos vendo: um bombardeio de headlines, notícias e mais notícias nos telejornais, chegando até a ser chato. O coitado do Obama foi deixado de lado; ninguém sabe que Hugh Jackman está no Brasil divulgando o filme do Wolverine. E a crise? Foi-se.

A doença nova contagiou a todos (belo trocadilho, hein?). E parece que a mídia consegue dissipá-la mais rápido que o ar; a Rede Globo em especial. Noutros canais até se pode ter um noticiário com manchetes mais interessantes. Outro aspecto interessante: as outras doenças sumiram do mundo! Pouco mais de mil desafortunados foram levados à óbito pelo novo vírus. Excelente. Pelo menos foram somente eles, porque o mundo todo esqueceu dos milhões de africanos contaminados com um vírus um pouquinho mais nocivo. Os milhares de tuberculosos espalhados por leitos abandonados Brasil afora também foram deixados de lado da mesma forma que um jornalista de merda deixa uma matéria desinteressante de lado.

A Rede Globo poderia se preocupar com coisas de importância bem mais acentuado. Mas está interessada na manchete, no dinheiro. O poder de influência é tanto que, segundo informações, as máscaras cirúrgicas das farmácias de Belém acabaram. A mídia colocou tanto medo na população que até nós, isolados do mundo, fomos contagiados (opa, de novo!) por essa nova febre (perdão). Não há como negar que o nosso Cidadão Kane*nos domina mais e mais a cada dia, chegando ao ponto de sermos influenciados na alegria e na tristeza, na saúde e na doença...


*Veja Beyond Citizen Kane, documentário britânico sobre a Rede Globo.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Razoável

A revista Veja, como de costume, não ousa publicar nada de construtivo ou interativo; possui o colunista mais idiota do mundo e reportagens completamentes desnecessárias. Logo, o que esperar de uma das suas promoções, a Cinemateca Veja? Para surpresa geral, até que é razoável. Não é boa nem ótima. É razoável. É evidente que, se for fazer alguma coisa sobre algum tema, deve-se expor fatos que afirmem tal. Sendo assim, se é feita uma promoção e publicação de cinema, que seja feita de uma forma correta. A intenção era mostrar os maiores 'sucessos'; numa outra leitura, deveria haver filmes que mostrassem toda a evolução cinematográfica - não necessariamente de uma forma cronológica.

Não estou tentando dissimular essa divulgação com gostos pessoais, mas sejamos sensatos: isso é pura balela. Claro que a publicação possui excelentes filmes como Apocalypse Now, 2001: uma odisséia no espaço, O Iluminado, A Malvada, Amadeus, Intriga Internacional, Pulp Fitcion, Fale com Ela, Disque M Para Matar, Um Dia de Cão, Um Sonho de Liberdade, etc. , mas essa lista deixa muito a desejar. Se é para publicar títulos de peso, por que motivos - até agora me pergunto - não há sequer um filme do Orson Welles? Cadê Cidadão Kane, considerados pelos críticos mais chatos como o melhor filme da história do cinema? É algo incompreensível.

E, se alguma vez na vida, for escolhido apenas um filme de Francis Fordo Coppola, que seja O Poderoso Chefão - na sua íntegra, claro. Casablanca fora esquecido completamente. Scorcese também foi descartado dessa lista. Pelo menos a loirinha dos Kennedy não foi esquecida. Filmes como O Planeta dos Macacos, Quem vai fica com Mary?, Alien, A Morte Pede Carona, Onze Homens e um Segredo e Uma Linda Mulher deveriam ceder, gentilmente, seus postos a filmes que, de fato, fizeram a história do cinema. James Stewart não teve oportunidade a uma atuação sequer.

Pergunto-me, ainda, o que aconteceu com Crepúsculo dos Deuses, 12 Homens e uma Sentença, Psicose, Scarface, A Lista de Schindler e com os outros filmes já citados... devem ser ruins demais aos olhos da crítica da revista. Pra piorar, a revista sequer mencionou algum filme nacional. Apesar da nossa televisão, o cinema brasileiro tem filmes muito bons.
Enquanto isso vou comprando os títulos que valem a pena. E repito a velha frase: Lê a Veja? O azar é seu.

terça-feira, 28 de abril de 2009

O tempo conta um conto

Contam que, lá pelo inverno de 1975, um novo casal havia se formado no mundo. Marion conheceu o Sr. Tempesta num Café, umas quatro quadras de sua casa. Aquela estava com seus dezoito belos anos e este já passara da casa dos vinte. Conheceram um ao outro, conheceram-se melhor - se é que me entende - e, num lapso de quatro meses, estavam vivendo juntos. O amor estava à flor da pele e paixão nunca se apagara. Seria mais um daqueles casais tradicionais, vivendo até que a morte os separasse.

Em 1990, Marion levantou-se com de praxe, olhou-se no espelho como sempre fazia e, ao ver o reflexo de Tempesta deitado na cama, a vaidade tomou conta dela, já que percebera que estava, digamos, mais inteira que seu marido. Continuava bela, com rubras bochechas e olhos da cor do infinito. Estava com o mesmo aspecto de dezoito anos atrás, corada, com pele tal qual veludo. Ele já ostentava algumas rugas, barba meio-termo e um bigode um pouco amarelo, almejado após anos de fumo. Naquela manhã não compreendera por que estavam assim: ela tão nova, parecendo que havia dormido uma noite apenas e ele, que teve sua juventude absorvida pelo tempo, estava na sua meia-idade.
Tempesta finalmente acorda e, para a fatídica surpresa de ambos, nesses quinze anos passados, não somente ela deixara de envelhecer, como ele envelhecera pelos dois; parecia ter passado mais de trinta anos para esse pobre rapaz. Teve dificuldade para levantar-se. Sua vista era turva e seus ossos não eram fortes como outrora. Suas lembranças era para ter sido acrescidas de quinze, e não mais de trinta anos. Contam que, a cada ano passado, o tempo lhe dava mais um. E quando estava com cólera total, ainda lhe dava uns meses a mais. O tempo se mostrou amante de Marion; mostrou tamanha paixão por ela, ao ponto de usar seu ofício para sucumbir seu companheiro.

O casal fazia tudo para que o tempo passasse mais devagar. Gladiavam com ele; faziam das menores coisas as melhores lembranças. Já não se importava com a idade, não tinham saudade. Não a tinham porque saudade dói, e eles se mostravam demais forte para o tempo. Este, por sua vez, cada vez com mais ira, fazia os anos passarem como o vento para Tempesta. Sempre deixara escapar um mês ou outro de vida para Marion naqueles dias em que se encontrava embriagado com tanto ódio e solidão. Todas as lutas contra o tempo foram vãs. Quer dizer, em todos os momentos possíveis, o tempo - sem querer - arrastou-se àqueles pés, lutando para correr.

Reza a lenda que, após 2005, o velho sr. Tempesta já não agüentava tanto maltrato do tempo. Estava com seus cento e oito anos, lúcido, lutando dia após dia para sobreviver ao lado de sua amada, com, no máximo, 26 anos. O que queria o tempo? Ele queria Marion.
Em meados de agosto de 2005, o sr. Tempesta não pôde suportar tanto peso, tantas rugas e sucumbiu, deixando Marion sozinha, aos cuidados do tempo. Vai, meu amor, esperar-te-ei nascer de novo, já que minha sina e viver aqui, em função do tempo, disse ela, num último suspiro, numa última agonia.

A partir de então, o tempo observara, noites a fio o pranto da pobre garota, acompanhara sua solidão que, se dependesse do guardião do destino, seria quase que eterna. A cada dia corrente, o tempo tentou de todas as formas se aproximar dela, prometia a vida eterna, prometia somente as melhores lembranças; poderia ela fazê-lo seu capacho. Mas Marion mal falava, apenas sussurrava o nome do seu marido, durante dias seguidos. Dizem que o tempo enlouqueceu. Dizem que coisas estranhíssimas começaram a acontecer no mundo. Diz a boca pequena que uma pandemia aconteceu no começo de 2006, a qual estava prevista para o início de 2009. Houve um rapaz - pelo menos no cinema - que viveu a vida de frente para trás; um tal de colapso econômico, previsto para meados do século XXI, aconteceu no final de 2008. Ninguém compreendia. O tempo havia perdido o juízo, diziam todos. E foi o que realmente aconteceu. O tempo foi criando barba, foi morrendo e jamais compreenderá que, não é ele quem domina o amor, e sim este tem total poder sobre o tempo. O amor brinca com o tempo; o tempo é instrumento do amor. Por tamanha besteira, o tempo pagará com a insanidade eterna, terá sempre de trabalhar a serviço de tal sentimento e a pobre Marion ficará nas mãos quase que eternamente de um tempo tão sozinho quanto ela.


*Inspirado na música "O Tempo" do grupo Móveis Coloniais de Acaju*

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Irmã

"Em fevereiro de 2005, a irmã Dorothy Stang, de 73 anos, foi brutalmente assassinada. Ativista na defesa do meio ambiente e das comunidades carentes exploradas por madeireiros e donos de terra na Amazônia, a freira americana foi executada com seis tiros no interior do Pará. O documentário revela os bastidores do julgamento dos assassinos de Dorothy e investiga as razões de sua morte e seus verdadeiros mandantes. Por trás do drama criminal, vem à tona o legado de seu trabalho humanitário na floresta brasileira."

Essa é a sinopse do documentário sobre a 'irmã' Dorothy, assassinada no interior do Pará. Só faltava essa... um filme pra defender uma senhora que veio lá dos Estados Unidos enxer o saco das pessoas aqui no Brasil. Essa senhora não fazia nada senão incitar os sem-terras a invadirem propriedades alheias, grandes ou pequenas. Não só ela, mas todo religioso que se mete nos interiores faz esse tipo de coisa: manipula a mente daqueles menos favorecidos pelo intelecto para obter alguma vantagem. Vai dizer que vocês pensaram que a irmã era uma santinha? Nada disso. Ela causava o mal no interior. Um dia qualquer, alguém cansado por tanta incitação da irmã, alvejou seis projéteis nela. Que pena; não precisava ser assim, também.

O fato é que ela se passa como santa ou 'mulher boa'. A verdade é que ela era o oposto do que se diz nos jornais (palmas para a imprensa brasileira). Por fontes seguras, tive acesso à informações sobre os autos do processo sobre o assassínio e derivados. O coitado do rapaz que foi preso inúmeras vezes (acho que é o 'Bida') nada tem a ver com a morte. Tem apenas aquele que confessara seu crime. Agora, por que omitem a verdades? No primeiro julgamente, Bida foi declarado inocente. Não contentes com a derrota, ONG's, grupos religiosos, padres e afins pressionaram demais para que esse julgamento fosse anulado. De fato foi. E agora? Já que o Judiciário não tem lá esses créditos, o que acontecerá no segundo julgamento? Será que a vontade de um monte de ortodoxos que insistem em influenciar no Estado prevalecerá? Temo que sim.

O que mais acontece pelos interiores desse Estado é a presença de religiosos incitando invasões, semeando a discórdia. A troco do quê? Antes a Dorothy tivesse voado em balões... a mídia daria menos atenção a essa palhaçada.

P.S. Não sou dono de terras, nem tenho vínculo com alguma das partes (longe de mim!), mas chega uma hora que tanta balbúrdia cansa.