quinta-feira, 16 de abril de 2009

Soneto

Porque eu me desconserto ao seu semblante
Nem a loucura se fez taciturna
Nem Perséfone, em Hades aduna
Beleza, pudor, como a tal amante

Átona, tônica, soneto errante
Italiano; palavras uma a uma
Quem as fez, que, na escuridão, as una
Para que vos padeça dor uivante

Nem que um dia volte minha chama e esmero
Nem que eu ria sua dor, chore seu deleite
Nem que Atena me desatine em vida

Talvez meu amor, de novo, me rejeite
Eterna, quiçá, minh'alma partida
Ainda sim, brado-te: como te quero


(soneto antigo)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Eventual e consciente

Estava estudando Direito Penal esses tempos a fim de me preparar para a prova de hoje e, na parte de homicídio me deparei com uma questão já verificada antes: a distinção entre dolo eventual e culpa consciente nos acidentes de trânsito. É uma questão interessante e, considero eu, bastante subjetiva. E para essa questão, apoio-me nas lições de Rogério Greco, visto que ele é bem enfático na questão de que não se pode levar como uma equação matemática absoluta a 'embriaguez + velocidade excessiva = dolo eventual'.

No homicídio, o elemento subjetivo é o dolo, tendo o agente atuado com animus necandi. No caso, diz-se que a infração é comeitda por dolo direto ou, algumas vezes, possui o título de dolo eventual. Pelo que estudei em Direito Penal, o dolo eventual surge quando o agente não se importa com o resultado que está por vir; assume o risco do mesmo. Logo, ele sabe que poderá acontecer. Na culpa consciente, o agente prevê o resultado mas, confiando nas suas habilidades, presume que poderá evitá-lo sem causar danos a outrem. Ele não quer que o resultado acontece e não se pode dizer que o mesmo não se importa com o resultado; na sua mente, ele evitaria qualquer resultado lesivo a terceiros.

Já ouvi gente falar que todos que dirigem embriagados e cometem acidentes deveriam ser presos e salvo engano, não sei se houve algum projeto de lei assegurando que todos os que fizessem vítimas fatais em acidentes de trânsitos - estando esses embriagados e em alta velocidade - responderiam por homicídio doloso (com dolo direto ou eventual). Para mim, isso é deixar a doutrina de lado e generalizar algo bastante subjetivo. Nota-se que essa culpa consciente ocorre na mente do infrator, uma vez que ele confiava nas suas habilidades, confia sinceramente. O dolo eventual é retirado dos fatos em si, e não da mente infratora. Aqui, a possibilidade do resultado é antevista, entretanto o agente assume o risco.

Sendo assim - e concordando plenamente com Greco - o clamor social, a vontade dos leigos não pode modificar o direito, ou a doutrina penal. É comum ouvir pessoas dizerem que 'todos aqueles embriagados que dirigem rápido devem ir para cadeia'. Não é bem assim. Se você, depois de sair da comemoração do vestibular do seu filho, tenha tomado umas cervejas a mais e lembra-se que tem, na casa da mãe, um jantar com toda a família e está atrasado. Pega rapidamente sua esposa e filhos, vai em alta velocidade a fim de chegar a tempo do jantar - confiando nas suas habilidades - acaba perdendo o controle do carro e matando toda uma estirpe. Quis esse agente cometer o delito ou assumiu esse risco, não se importando com o resultado? Se você não for de Porto Alegre, claro que não quis. São coisas que devemos parar para pensar e não tomar como regra absoluta. Mas nosso Estado Democrático de Direito é uma maravilha; nada de ruim acontecerá. Quem sabe esse pai do exemplo seja condenado. Ou, para burlar nosso Estado e se valendo das lacunas legais, renuncie ao cargo de pai, a fim de que ainda possa sê-lo no futuro.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Coringa - ou Curinga

Muitas são as histórias do personagem dos quadrinhos, o Coringa - originalmente 'Curinga', o correto, modificado por ser 'feio'. Há de se perceber que o Coringa dos quadrinhos é bem diferente daquele das telas do cinema. Nas revistas, ele era, a priori, chamado de capuz vermelho. Esse bandido cai, acidentalmente, num tonel de produtos químicos e é dado como morto, mas reaparece 10 anos depois, louco, com cabelos verdes e pele branca. O melhor dos quadrinhos é Batman: A Piada Mortal. Nessa história o Coringa tenta mostrar que a pressão psicológica pode fazer com que o ser humano se encontre num abismo entre a lucidez e a loucura, chegando ao ponto de escolher essa segunda para amenizar seus pesares. Ele invade a casa do comissário Gordon, seqüestra-o, atira no estômago da sua filha - a Batgirl - e, supostamente, a violenta sexualmente. Depois, Jim Gordon é levado a um parque de diversões onde, andando em uma montanha-russa, vê passar diversas fotos de sua filha sendo violentada pelo Coringa. O vilão tenta implementar a loucura na cabeça de Gordon, mas não consegue. Ao final, o Coringa conta uma piada onde o Batman, primeiro, dá um sorriso de lado e termina com os dois gargalhando sem parar. Dizem que o alter ego do Coringa é Jack Niper; talvez Batman e Coringa sejam respectivos alter ego um do outro.



Passando para os coringas do cinema, temos Tim Burton e Christopher Nolan dirigindo, respectivamente, Jack Nicholson e Heath Ledge. O Coringa interpretado por Nicholson se aproxima mais do clássico. É brincalhão, palhaço, sarcástico. Suas armas são diferentes, como a flor que jorra ácido, o botão que mata a pessoa com o choque e o gás do riso. No filme de 1989, é mostrado que Jack Niper cai em um tonel após um tiro resvalado acertar-lhe o rosto. Após uma cirurgia frustrada, Niper fica com um eterno sorriso no rosto. Fica, ainda, com cabelos verdes e a pele completamente branca. Nasce o sarcástico e eterno Coringa do cinema, o qual distribui dinheiro para as pessoas para mostrar que ele não é tão ruim assim. Possui insanidade na medida certa.
Em 2007/2008 nasceu um novo Coringa, imortalizando Heath Ledge. Esse personagem bem mais contemporâneo beira a loucura completa. É um Coringa anarquista (num sentido chulo), sem rodeios e muito, muito cruel. Aqui não se tem sua origem, salvo por uma citação do Batman de que aquele esquizofrênico fora recrutado por ele de Arkham (uma prisão/manicômio que aparece nos quadrinhos). Ele é pura e simplesmente louco, não caiu em nenhum produto químico; usa maquiagem e pinta o cabelo, possuindo, apenas, cicatrizes que ele mesmo dá diversas origens a elas. É uma loucura que beira a Ultraviolence bem apresentada em Laranja Mecânica ou em qualquer filme Tarantinesco. O Coringa de 2008 não tem nada a perder, e não quer ganhar; em certa passagem do filme, ele indaga que não quer ver o Batman morto, visto que eles se completam ("You complete me"). Talvez aqui tenhamos aquela relação de alter ego mútuo, onde, quem sabe, Coringa e Batman jamais se separarão. Serão um só ato, uma só força; uma só violência.

Iñárritu

Filmes quase poéticos. Assim defino as películas do diretor mexicano Alejandro González Iñárrutu. Com cenas de tirar o fôlego, os filmes possuem uma peculiaridade do autor: a atemporalidade a qual os filmes são mostrados. Amores Brutos, 21 Gramas e Babel. Todos são bons filmes; não são obras-primas mas são excelentes.

Amores Brutos (2000) foi o primeiro, carregado daquele castelhano que somente eles entendem. Lembro de ter visto n'O Liberal alguma crítica bastante ruim acerca deste filme, de 'um qualquer Passarinho'. Se bem que, tratando-se desse fausto jornal, não se pode esperar nada construtivo. Pois bem, é um filme, de fato, diferente, haja vista sua ausência de ordem cronológica. Apesar dessa falta, o filme prende a atenção do espectador do início ao fim, salvo pela parte do cachorrinho enjoado da modelo. No mais, o filme dispensa críticas absurdas.


21 Gramas (2003) é um filme um pouco mais maduro, não sei se pelo tempo ou se pelos seus atores. No primeiro, tinha apenas Gael García Bernal, ainda em ascensão. Agora, tem-se atores como Sean Penn, Benicio Del Toro e Naomi Watts, esta última em papel diverso do super filme de terror "O Chamado". Novamente, um filme sem ordem cronológica, onde vidas se cruzam num thriller excêntrico. Atropelamento, transplante, morte... Uma união não só fúnebre como explosiva de interpretações de dramas que realmente ocorrem na vida real, sem sequer nos importarmos. O refúgio nas drogas, a redenção com jesus (para os que acreditam)... tudo é mostrado.


O terceiro dessa quase trilogia é o mais conhecido. Babel (2006) com certeza não é o melhor dos três, mas chega a impressionar mais o espectador - talvez pelas suas cenas um pouco mais fortes. Nudez, apelo sexual, incesto... Falando em incesto, o filme mostra, mesmo que sem querer, que o incesto não é a aberração atribuída pela sociedade (Não, eu não sou fã Rodrigueano). Naquela família marroquina, eram apenas pai, mãe, dois irmãos e irmã. Para Freud, a primeira referência que o filho tem do sexo oposto é a mãe. Só que isso fica retido no incosciente, bem como o ciúme do pai. Sendo assim, a única referência explícita do sexo oposto daqueles meninos era a irmã. Loucura ou não, havia uma atração - no mínimo - institiva, animal. No mais, a união de histórias e vidas nesse filme cruza oceanos. Alejandro foi mais ousado, uniu continentes, temperou o filme com falso terrorismo, com a paranóia americana. Brad Pitt e Cate Blanchett figuram bem no filme, assim como - novamente - Gael García Bernal. O que mais me agradou no conjunto foi o título do filme ligado à história (ou História - ou estória) em si. Não é o melhor, mas é o mais forte. A ordem cronológica - ou a falta dela - aqui é bem menos complexa e mais fácil de entender. Babel e quase, quase comercial - ainda bem que não fora.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Kubrick

Eu juro que tento assistir aos filmes do Kubrick com uma visão mais crítica da obra de arte cinematográfica, mas não consigo. Talvez sempre crie uma expectatia que termina sempre frustrada ao final de cada filme. Kubrick é um gênio, talvez eu que seja suficientemente ignorante para a sétima arte. Mas deveras aconteceu com Laranja Mecânica, O Iluminado, 2001: Uma Odisséia no Espaço e Nascido Para Matar. Desses, o que mais me agradou foi O Iluminado. Acho que pelo fato de ser baseado numa obra de Stephen King tenha ajudado bastante.


A maior expectativa criada foi em cima de Laranja Mecânica (A Clockwork Orange - 1971) . É um bom filme e só. Ouvia rumores que era uma obra-prima do cinema. Talvez para os críticos; para mim - que sou um mero apreciador do cinema - é um bom filme feito por um ótimo diretor. A violência não me surpreendeu como o esperado -a chamada Ultraviolence. Entretanto, como todo bom filme do Kubrick, a trilha sonora é sensacional.





2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey - 1968) também é um bom filme, ainda mais para a época em que foi feito, 1968. É repleto de efeitos especiais relativamente absurdos, totalmente avançados para a época. O corte no tempo é gigantesco: passando dos nossos ancestrais ao espaço. A trilha sonora dispensa qualquer comentário. É lindo. Dá pra ficar de olho fechado e imaginar mil e uma coisas ouvindo a trilha do filme. A idéia de ter um computador que conversa com as pessoas é bastante avançado para a época. Mas, mesmo assim, faltou alguma coisa no filme. Talvez o cuidado de vê-lo com outros olhos.


Não poderia faltar um bom filme sobre a guerra do Vietnã. Nascido Para Matar ( Full Metal Jacket - 1987) é um excelente filme sobre a guerra. Esse até que superou as expectativas. Parecia ser apenas mais um filme de guerr, mas mostra o lado do treinamento e da tortura psicológica de um modo peculiar (não tanto quanto Apocalypse Now). Diferentemente de Platoon, esse filme mostra que jovens são treinados para serem máquinas de matar. É conturbante. É muito bom.


Palmas para O Iluminado ( The Shining - 1980). Apesar de não dar os sustos esperados (se bem que, se é susto, não é esperado. Enfim...), é um filme que mexe com a imaginação. A atuação de Jack Nicholson é primorosa, única. Somente ele sabe como interpretar personagens intrigantes e psicologicamente conflituosos. O garotinho também é muito bom, agora a mulher... Esse sim é um filme digno de um diretor genial, ímpar. Cenas cheias de horror e com uma boa trilha sonora (em relação aos demais filmes). Esse é um dos que vale a pena assistir várias vezes, até mesmo antes de dormir. Não se faz mais bons filmes de horror hoje em dia: são apenas recheados com sangue e gritos. Nada mais. Não têm uma história, não são daqueles thrillers que deixa o espectador ofegante e com as pupilas dilatadas. Palmas, mais uma vez, para Kubrick.

557

Enquanto fazia minha visita diária ao sítio G1, vi que a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo aprovou um projeto de lei que veta o fumo em ambientes públicos total ou parcialmente fechados. Bom, tentarei ser o mais imparcial possível, visto que parei de fumar - ou reduzi drasticamente. Excelente. É um avanço. Impedir que um fumívoro contamie o ar alheio é uma medida social muito boa.

Bela estratégia, já que um assunto desses, com certeza, cairia nas graças da mídia brasileira. Fingem muito bem a labuta. Vão pensar "Olha, os deputados estão trabalhando. Que bom para o Estado de São Paulo". Meus senhores, já olharam ao redor e perceberam que, envolta de vocês está tudo alagado? Não, claro. Já notaram a pequena violência instaurada, não só em São Paulo, como no país inteiro? Não, senhores deputados, vocês, em berço esplêndido, na mais absoluta calmaria de seus gabinetes, não notaram o caos que está São Paulo. Mesmo eu, com uma visão refretada pela mídia, a mais de 2.000 km, percebo que São Paulo está/é um caos. Particularmente adoro a cidade, mas não desejo sua morada a ninguém.

Então, senhores, trabalhem em algo digno (não que defender a saúde das pessoas sãs seja algo indigno), não tentem abafar as coisas ou mostrar trabalho com leis relativamente sem importância em relação ao estado em que se encontra vosso país. Não tentem mostrar trabalho com leis assim. Ajam, façam, trabalhem! Já que não vão, é um bom começo. Parabéns. O que vale é a intenção; parafraseando Chico Buarque: São Paulo é a cidade que não deu certo. Pelo menos aí presumo que não haja nenhum lobo-mal na Assembléia.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Carma

Belém - como cidade grande e desenvolvida que é - repleta de pontos de lazer, deveria ser, pelo menos, um pouquinho mais segura. Alguns sábados eu ia à praça do carmo, à noite, para jogar conversa fora com os amigos ou mesmo porque não tive opção de lazer. É até bom, calmo. Ficar sentado em meio à praça é sensacional; eu até entendo por que vem tanto turista pra cá. Agora, falando sério, não volto naquela praça tão cedo.

Todo santo final de semana, há inúmeros assaltos naquela ruela da igreja. É cruel. Enquanto a igreja descansa, seu povo faz a festa. Nunca estacione, à noite, naquela rua. Há uma chance enorme de ter seus pertences subtraídos. O mais engraçado é que todos sabem que ali é um ponto de venda de drogas e que há inúmeros assaltos, mas ninguém faz nada; fazer o quê? A polícia vai lá de vez em quando, pegar a sua "ponta" para não invadir o ponto e levar todos os meliantes. E os bons cidadãos ficam à deriva, num mar de iniqüidade e corrupção. Como diz a minha sábia vó, o pior bandido é aquele fardado.

Curioso é ver propagandas e propagandas de que houve concursos para milhares de guardas municipais. Cadê esses guardas? Cadê a liberdade. Ser refém do medo é sentir-se impotente para enfrentar o mundo. É horrível. Pará, terra de direitos? Que direitos? Direito de ficar em casa ou direito de colocar a película mais escura no carro com medo de sair à noite na rua? Direito de abrigar uma bala órfã? Direito de ter medo de ir comprar remédio. Direito de morrer? É, direito de morrer; fomos autorizados à realização da eutanásia.

domingo, 5 de abril de 2009

Interiorize-se

Sexta-feira fui levar meu irmão ao médico e como toda boa sala de espera, me deparei com revistas antigas. Folheei uma delas - a primeira que vi - como sempre faço: começo pelo final. Sei lá por quê. Cheguei onde queria: na coluna do ilustríssimo Diogo Mainardi. Como toda bela bosta que ele escreve (com o perdão da palavra), a dessa edição foi sensacional. Era alguma coisa relacionada a algum secretário chamado Altamiro Borges. Por se tratar de ser um nome similar a de uma cidade do interior do Pará, Dioguinho, a cada vez que citava o tal secretário, trocava o nome por alguma outra cidade interiorana.

Começou mal. Logo no começo, chamou-o de Ananindeua Borges. Depois chamou-o de Quatipuru Borges, Oriximiná Borges, etc.; cidades do interior, mesmo. Que pena o Mainardi viver em Manhattam e sequer saber o que é o Brasil. Se ele tivesse o mínimo de parcimônia, saberia que Ananindeua, diferente de Bujaru, Parauapebas, Ulianópolis e afins, não é cidade do interior e sim faz parte da região metropolitana de Belém. Se bem que ele nem deve saber o que é uma região metropolitana. Coitado.

Ah, ele ainda teve a coragem de falar mal do Arnaldo Jabor nesse mesmo artigo. Eu não sou fã do Jabor, nunca li seus livros ou assisti aos seus filmes, mas ele me parece muito bom. Agora, um merdinha desse vir falar mal de um cara assim... não dá. Enfim, que Mainardi continue bem longe do Brasil.

(Eu me sinto "péssimo", mas preciso falar isso)





Mainardi é tão incompetente que não conseguiu nem fazer um filho. Pronto, falei. Agora vou para o inferno e deus vai me castigar. Adeus.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Dia das mentiras (sinceras)

Existem várias versões para o surgimento dessa tradição. A que mais me interessa é a da frança, do Século XVI, onde, depois de adotar o calendário gregoriano, o rei Carlos IX determinou que as festas da virada do ano aconteceriam no dia 1° de Janeiro. Contudo, como francês é chato, teimoso e conservador, é claro que muitos resistiram a essa nova mudança e é claro que esses remanescentes foram gozados ironizados pelos outros, recebendo oferendas estranhas e convites de festas que sequer existiam. Logo, 1° de Abril.

No Brasil, o dia da mentira surge quando dissemos que está tudo bem; que nada acontece. Os tiroteios no Rio de Janeiro: mentira. Não existem. Os estupros covardes, tudo balela. As enxentes Brasil afora... é tudo intriga do DEM(O)! Paulo Coelho é o melhor escritor do país, deixando no chinelo Machado de Assis e Jorge Amado. Não há abuso sexual entra crianças no Pará e tampouco há deputados envolvidos nisso. O Dunga é o melhor que a seleção já teve. A língua portuguesa continua maravilhosa: os hífens, tremas e acentos apenas tiraram férias; estavam deprimidos por serem inúmeras vezes esquecidos pelos alunos do ensino médio, fato questionável, pois o Estado dá um auxílio enorme para o ensino público. Todas as nossas crianças têm merenda nas escolas; Josés e Marias votam conscientes, porque tiveram uma ótima estrutura cultural. Os jornais do nosso estado são imparciais. Tudo que há neles é a mais pura verdade.

Queimem os livros! Esqueça a ciência, nada é verdade. Acreditar na ciência é demodé. Os dogmas católicos estão com tudo no Século XXI; todos devem concordar com o papa: preservativo no evita AIDS. Claro, senhor papa, a camisinha ajuda na propagação do vírus. Proíbam a camisinha, pois o bicho homem tem repúdia ao sexo. Odeia orgasmos; as mulheres odeiam os múltiplos. Batizem uma nação inteira. Estaremos deitados eternamente em berço esplêndido. O primeiro de Abril do brasileiro dura 365 dias.

Olha o padre baloeiro voltando... É mentira. É primeiro de Abril. É festa. Ainda é carnaval.

quarta-feira, 1 de abril de 2009





Achou engraçado? Eu achei. Muito.

Harvey


Quem já assistiu ao filme Milk - A voz da igualdade (Milk - 2008) sabe o quanto é impactante. Digo impactante não pelas cenas homossexuais quase que explícitas (o que hoje em dia é normal, basta esquecer o preconceito e querer enxergar), mas sim pela forma como os homossexuais eram tratados nos Estados Unidos. Era terrível. A repressão, o preconceito assíduo, as doenças... Tudo. Agora - pelo lado do cinema - quem estava acostumado ao ver Sean Penn em papéis de machão, se surpreende e muito com a sua atuação. É esplendorosa. Gus Van San, ao contrário, já teve dias melhores. Se bem que, depois de Elefante, tudo que ele fizer, com certeza, terá um filme pior.




Fica claro que - pelo menos no filme - Harvey Milk lutou pelos direitos dos homossexuais estadunidenses. Na verdade, nem precisava. Todos têm direitos e são iguais, independente da opção sexual. Só que o tão poderoso Estados Unidos da América é, pelo menos fora outrora, um país conservador. Nunca quis admitir a sua enorme comunidade gay. Será por medo? Será que porque talvez "deus" não permita essas coisas? É, provavelmente uma crença barata dessas deva ter feito a cabeça de milhões de pessoas na época (quiçá até hoje) contra os gays. Dizer que homossexualismo é doença, no mínimo, deve ser ignorado. Mais ignorada deve ser a igreja caótica, digo, católica, por não aceitar pessoas comuns com opções diferentes. Pra falar a verdade, a igreja não aceita nada, só dinheiro e crianças. (Já vi que jesus vai me processas por calúnia)

No mais, fica claro no filme como o ativista lutou para explicar às cabeças arcaicas que homossexualismo não se aprende como se aprende uma matéria no colégio nem é contagioso. Caso contrário, todos em volta de um homossexual tamém o seriam. É uma propositura ridícula.

P.S. Uma coisa é ser gay; outra é fingir ser ou ser apenas porque está na moda ou porque seu amigo é e tu achaste legal.

P.S 2 Eu não sou. Apenas acho que esse é um preconceito que já deveria ter sido superado há tempos.

terça-feira, 24 de março de 2009

Minha vida, minha morte



Não lembro se já escrevi sobre isso aqui e estou com preguiça de fuçar no arquivo, mas é interessante a discussão sobre ter uma morte digna. É claro que se o homem soubesse o dia exato e a hora em que fosse morrer, desde o seu nascimento, sua vida não seria dotada de valor moral. Pois bem, se uma pessoa sã, que perde o que mais lhe dava razão para viver, não se sente mais apta ao mundo, por que prendê-la a ele? Por que submetê-la a tal martírio?

Em meio às várias discussões acadêmicas e do próprio cotidiano, tomemos como exemplo dois filmes; um de grande conhecimento geral e outro, nem tanto (porém deveria sê-lo bem mais que o primeiro). No filme Menina de Ouro (Million Dollar Baby - 2004) , a protagonista, que sonhara em ser uma grande lutadora, reconhecida mundialmente, quase chega lá. Uma lesão na medula espinhal fez com que ela ficasse paralisada do pescoço para baixo, imóvel, inerte. Agora, que dignidade essa pessoa tem, se o mecanismo para seu sonho o fora roubado (seus músculos, seu corpo)? Se é de sua vontade, que seja feito o suicídio assistido, visto que, no filme, a personagem tenta o suicídio ao morder a própria língua, já que era um dos únicos movimentos que lhe restara.


O filme Mar Adentro (Mar Adientro - 2005) - por sinal, superior ao primeiro - narra a história de Ramón (Javier Bardem), que já inicia tetraplégico e, durante toda a trama, luta contra a justiça para poder ter uma morte digna, já que estava há anos naquele estado. Luta pois sequer consegue cometer suicídio. É um final previsível, triste, mas que, em hipótese alguma, dispensa sua apreciação.
De acordo com a Tanato-ética, há uma diferença entre eutanásia e suicídio assistido. Na primeira - eutanásia ( eu - boa; thanatos - morte), desliga-se a fonte que sustenta um enfermo de anos, em estado vegetativo. Não há uma autorização expressa para essa morte. É o que aconteceu no caso da italiana mostrado na mídia. Suicídio assistido é o que acontece na maioria dos filmes; é uma morte com a autorização do indivíduo.
Todos deveriam se preocupar com a morte. Todos. Às vezes, sofrer numa cama, imóvel, pode ser pior que a morte. Ferir a dignidade é ferir a vida do ser humano.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Exoterismo Barato

Claro que todos conhecem o nosso 'grande' escritor brasileiro chamado Paulo Coelho. Sua fama no exterior é estrondosa, seus livros são traduzidos para vários idiomas e, por cima, um dos seus livros virará filme em Hollywood (grande merda). Quem vê tais fatos espera um escritor, no mínimo, excelente. Porém a realidade é outra. Entre orgulhos e vergonhas de ser brasileiro, eis aqui algo que deixa qualquer brasileiro sensato de estômago embrulhado: a escrita do nosso "intelectual mais importante do Brasil" (segundo ele mesmo).

Sem rodeios, é uma escrita pobre, sem valor algum, repleta de erros de concordância, os quais são abafados por edições posteriores e omitidos nas traduções mundo afora. Suas metáforas conseguem ser piores do que as do Presidente Lula. Mostremos, então, algumas de suas frases para que, depois, não digam que é implicância ou picuínha.

"Não existe nada completamente errado no mundo, mesmo um relógio parado, consegue estar certo duas vezes por dia" Pelo amor... o dia do coitado só tem doze horas. Apesar de existirem os relógios tradicionais, de ponteiro, existem relógios digitais que marcam a hora (de acordo com o horário do Brasil), de 00:00 às 23:59. Pobre Paulo.

"Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você realize o seu desejo." Claro, eu desejo todos os dias ganhar na mega-sena e até hoje... nada. Talvez deus esteja meio ocupado conspirando com o universo inteiro.

"Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela." Eu acredito ser um chefão da máfia italiana, podre de rico. Cosmo e Wanda, cadê vocês?

"Tudo que acontece uma vez poderá nunca mais acontecer, mas tudo o que acontece duas vezes, certamente acontecerá uma terceira." E assim segue: tudo que acontecer três vezes, certamente acontecerá uma quarta. Uma mãe que só tem um filho, dificilmente terá outro, mas se tiver dois, é melhor fazer laqueadura.

"Que minhas lágrimas corram para bem longe, para que meu amor nunca saiba que um dia chorei por ele." Não se preocupe, Raul Seixas já morreu.

"Amor só descansa quando morre.Um amor vivoé um amor em conflito." Claro. Mate sua mulher amada e viva feliz para sempre.

"Deus com Sua infinita Sabedoria, escondeu o Inferno no meio do Paraíso para que nós sempre estivéssemos atentos." Ele só esqueceu de pedir emprestado para Dante o purgatório.

"O maior de todos os pecados: o arrependimento." Arrepender-se deveria ser proibido; reconhecer um erro e pedir perdão é algo inconcebível nos dias de hoje. O arrependimento, na verdade, é a redenção para um pecado. Sábias palavras, mestre Paulo.

"A vida fica mais fácil quando gostamos do que estamos fazendo" Quando fazemos o que odiamos, a vida fica tenebrosa. É quase um silogismo.

Que pena.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Pest

Li Budapeste - obra de Chico Buarque - duas vezes. Foram necessárias essas duas vezes para compreender a real essência do livro. É sensacional. Termina o livro e tu pensas o que realmente a história é; mas depois pensas que aquilo é quase incabível. Porém, é tudo verdade. É como se colocasses um espelho na frente de outro espelho: eis o infinito de imagens semelhantes. Surge, aí, um imbróglio de imagens, idéias e fantasias. A essência do livro é tão densa que chega ao ponto em que o leitor pensa ser o José Costa - ou o autor do livro. E, ainda, o autor da obra, majestosamente, inclui-se no livro, na pele do "Sr..." (tudo indica que essa personagem seja o próprio Chico).

Até boa parte do livro, é apenas um ghost writter que transita do Rio de Janeiro à Budapeste, sem muita convicção. Contudo, a história toma tal rumo que deixa o leitor atordoado com o tamanho da sua complexidade e beleza. Nada era real; o livro não é real. Nada aquilo escrito existe. O livro nas mãos do leitor é o mesmo livro nas mãos do personagem. A leitura é a mesma.

O Budapeste é o livro do José Costa (ou Zsosé Kósta), é um livro recheado de fantasias com narrativa que, a princípio, é verdadeira. O Budapeste é de quem o lê, é sem dono. É como se cento e setenta páginas fossem do leitor, e as restantes do real autor; é sentir-se um autor. É ter uma obra escrita por um ghost writter. É uma sensação única lê-lo.

Voltei

Bom, depois de sei lá quanto tempo parado, acho que voltarei a escrever aqui. De quando em quando, se minha cabeça me permitir, se minha sanidade gostar. Ah, e eu não respeitarei essa maluquice de reforma ortográfica. Ninguém roubará meus acentos, meus hífens e meus tremas.


Grato.