segunda-feira, 20 de abril de 2009

Doce ilusão

Ah, o mundo do Direito. Nunca quisera fazer parte dele. Nunca. Talvez o quisesse no meu inconsciente; talvez no alter ego tímido e taciturno, lá no fundo. Mas minha lucidez nunca permitiu tal devaneio. Pestanejei uma, duas vezes, mas cá estou. O assombro de ser um 'profissional do direito' me tortura cada dia corrente, a cada giro da nossa Terra. Talvez se acreditasse no deus idolatrado por muitos dos brasileiros, talvez pedisse para ele aparecer e levar essa ânsia embora; venderia minh'alma a ele. Por que não? Talvez ele seja mais rico que o anjo caído. Ah, chega de mitos católicos apostólicos romanos.

Mas, o que fazer nessa corrida incessante pelo sucesso, e por que não, pelo dinheiro? Sinto-me um estranho no ninho, sinto-me perdido e atordoado em meio a uma aula de Direito. Não entendo (não em sentido estrito) aquelas discussões idiotas e sem lógica. Não pertenço, de maneira alguma, ao mundo do Direito. Outro aspecto importantíssimo: há alguma coisa mais nojenta do que aquele acadêmico de Direito (porque chamar de estudante é ofensa) que jura que já é advogado? Aquela fala autoritária, aquele cabelo certinho, aqueles livros que - no final das contas - ninguém sabe pra que serve... Ah, faça-me o favor. As teorias gerais me roubaram um ano. Seqüestraram minha mente para falar de coisas que, no final do curso, ninguém se lembra (infelizmente).

Pode ser que a única coisa que sustenta minha tristeza nesse curso seja Direito Penal. Eu gosto muito, admito. Mas vejo essa área de um modo alheio às outras esferas desse mundo. Aqui eu vejo as loucuras do ser humano, suas barbaridades, seus medos. Os homicidas não me impressionam. As mentes psicóticas não são repudiadas por mim. Eu as analiso e temo cada dia mais a violência. Mas a nossa vida é isso: violência. Não há como negar. O mundo só tende a piorar. Temos que nos acostumar com isso. Temos que nos acostumar com o sangue, com as vísceras, com o grito de socorro do José, com o pranto da Maria, com a alegria do projétil órfão ao encontrar sua morada. Temos que ser seres humanos, fortes e sãos.

Meu clamor será eterno, minha mágoa, não sei que vida terá. Por enquanto tem a minha. Isso é mais que um desabafo. É um testemunho doentio. Perdi minha habilidade para a escrita, minha criatividade. O curso está me matando. Pena que o mundo é mundo e nós - às vezes - somos empurrados para uma trilha indesejada. Pena eu ser fraco e apenas ensejar um sonho - e não fazê-lo, construi-lo; o que sustenta minha lucidez são os romances lidos, os filmes vistos... Um dia serei alguma coisa. Um dia.

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